Diante da destruição causada pela guerra e das restrições impostas, pescadores palestinos na Faixa de Gaza têm recorrido a métodos improvisados para garantir o sustento. Khaled Habib, que teve seu barco destruído pelo Exército israelense, encontrou uma solução inusitada: transformar a porta de uma geladeira em uma prancha de remo para continuar pescando no porto da Cidade de Gaza.
Pescadores enfrentam dificuldades para manter atividade
Sem acesso a embarcações adequadas, Habib adaptou a peça, enchendo-a com cortiça para flutuar, cobrindo-a com madeira para maior estabilidade e impermeabilizando-a com plástico. Ele ainda improvisou um remo com pás presas a um pedaço de madeira e criou uma cesta de pesca com arame. Com massa de pão como isca, tenta garantir alimento para sua família, apesar das dificuldades.
“A situação atual é muito difícil e nós, pescadores, estamos sofrendo. Não podemos mais pescar como antes, não há mais barcos, todos eles foram destruídos e largados na areia”, relatou Habib.
Restrição marítima prejudica atividade pesqueira
O porto de Gaza, assim como outras áreas da região, foi amplamente danificado por 15 meses de conflito, afetando gravemente os pescadores locais. Mesmo com a trégua iniciada em 19 de janeiro, a pesca continua proibida além da pequena área do porto. “Se sairmos, a Marinha israelense atira em nós”, afirmou Habib.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a pesca na Faixa de Gaza caiu drasticamente desde o início do conflito em outubro de 2023. Atualmente, o volume diário de captura representa apenas 7,3% do registrado em 2022, resultando em um prejuízo estimado de US$ 17,5 milhões (cerca de R$ 100 milhões).
Adaptações permitem sustento e aprendizado para as novas gerações
Com sua prancha improvisada, Habib consegue capturar pequenos peixes para alimentar a família e vender parte da pesca a preços acessíveis no mercado local. Sua invenção inspirou outros pescadores, especialmente jovens, a criarem suas próprias versões, com diferentes graus de sucesso.
Além de garantir a pesca, ele enxerga outro benefício nessas pranchas improvisadas. “Se quisermos que a próxima geração saiba nadar, os barcos deveriam ser feitos com portas de geladeira. Todos poderiam aprender a nadar, remar e velejar”, disse.
Enquanto observava crianças tentando se equilibrar na água, Habib concluiu: “Graças a Deus, elas agora sabem nadar”.