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Guerra
10/03/2025 00:00:00

A verdadeira razão pela qual a Rússia invadiu a Ucrânia (e não foi a expansão da Otan)

A verdadeira razão pela qual a Rússia invadiu a Ucrânia (e não foi a expansão da Otan)

O agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia reflete um debate mais amplo dentro da política dos Estados Unidos sobre quem, de fato, é responsável pela guerra. O ex-presidente Donald Trump já declarou diversas vezes que a invasão ocorreu devido à incompetência do governo Biden, enquanto outros analistas argumentam que os EUA são culpados por terem descumprido a promessa feita a Moscou no final da Guerra Fria de que a Otan não avançaria além da Alemanha caso os soviéticos aceitassem a reunificação alemã. De acordo com essa lógica, a primeira expansão da aliança, em 1999, com a adesão da Polônia, da República Tcheca e da Hungria, teria desencadeado a resposta militar russa contra a Ucrânia. Acadêmicos respeitados continuam a defender essa tese em debates e entrevistas.

A realidade, no entanto, é que esse discurso se afasta dos fatos. A responsabilidade pela invasão e pela destruição que se seguiu é exclusivamente de Vladimir Putin, e qualquer tentativa de encontrar uma solução para o conflito deve partir desse princípio. Quando a União Soviética entrou em colapso em 1991, ficou evidente que o modelo soviético já não conseguia competir nos âmbitos econômico, político e militar. O império criado por Lenin e Stalin desmoronou por suas próprias contradições, enquanto o Ocidente consolidou sua posição e passou a moldar a nova ordem global conforme seus interesses.

Isso não pode ser considerado traição ou oportunismo, mas sim a consequência natural da vitória. Se a União Soviética tivesse vencido a Guerra Fria, certamente teria feito o mesmo. A diferença é que a ampliação da Otan, ao contrário da narrativa russa, ocorreu porque as nações que escaparam do domínio soviético desejaram se unir à aliança. No cenário global, o vencedor dita as novas regras, e a Rússia compreendeu bem essa realidade, ainda que Putin, anos depois, tenha lamentado o fim da URSS como a maior tragédia geopolítica do século XX.

A entrada de novos países na Otan e na União Europeia não foi parte de uma conspiração ocidental contra Moscou, mas sim um reflexo da derrota soviética. Os EUA, junto de seus aliados, decidiram reconfigurar o cenário europeu para garantir estabilidade e segurança, algo que beneficiava tanto a América quanto os países da região. No entanto, o erro do Ocidente não foi sua assertividade, mas sim sua falta de clareza estratégica. Diferente do período pós-Segunda Guerra Mundial, quando os EUA investiram fortemente na reconstrução europeia e na contenção soviética, o pós-Guerra Fria foi marcado por um desarmamento em massa das potências ocidentais.

A Otan se expandiu, mas sem reforçar militarmente a nova arquitetura de segurança. Enquanto isso, os EUA se envolveram na Guerra ao Terror, desperdiçando trilhões de dólares em projetos de reconstrução sem viabilidade real. Essa postura frágil encorajou Putin, que testou os limites do Ocidente em diversas ocasiões: primeiro na Geórgia, em 2008; depois na Ucrânia, em 2014; na Síria, em 2015; e, por fim, na invasão total da Ucrânia, em 2022.

A fraqueza do Ocidente, e não uma suposta agressividade contra Moscou, permitiu que a Rússia adotasse uma postura revisionista e voltasse a desafiar a ordem internacional. Se os EUA e a Europa aceitarem um acordo de paz que consolide os avanços territoriais russos, estarão concedendo a Putin uma vitória histórica, o que abrirá caminho para novas ofensivas e uma redefinição da influência russa no continente. Esse desfecho não apenas consolidaria a presença de Moscou na Ucrânia, mas também teria repercussões no Oriente Médio, na Ásia e em outras partes do mundo, fortalecendo a aliança entre Rússia e China.

Se o Ocidente deseja evitar um retrocesso geopolítico, precisa abandonar sua política hesitante e reconhecer que dissuasão não se faz apenas com discursos, mas com poder e determinação. Caso contrário, o risco é reviver os erros do passado e permitir que novas potências autoritárias moldem o futuro global conforme seus próprios interesses.



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