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Religião
05/03/2025 14:00:00

Quaresma: o que é a Quarta-Feira de Cinzas?

Quaresma: o que é a Quarta-Feira de Cinzas?

A Quarta-Feira de Cinzas é um momento significativo para os católicos praticantes, marcando o encerramento do Carnaval e o início da Quaresma, período de 40 dias de reflexão e preparação espiritual até a Páscoa. Esta data simboliza a transição da festa para um tempo de recolhimento, penitência e renovação interior.

Nas missas celebradas ao longo do dia, os fiéis recebem cinzas abençoadas, que são colocadas sobre a cabeça ou desenhadas em forma de cruz na testa. Durante esse rito, o sacerdote pode pronunciar uma de duas frases tradicionais: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, que incentiva a transformação pessoal e o distanciamento dos excessos para buscar uma maior proximidade com Deus; ou “Das cinzas vieste, às cinzas retornarás”, que relembra a fragilidade e a brevidade da vida humana. Segundo o vaticanista Filipe Domingues, essas duas expressões refletem os principais significados das cinzas: a necessidade de arrependimento e a consciência da transitoriedade da existência.

A tradição da Quarta-Feira de Cinzas teve origem entre os séculos III e IV como um gesto de penitência pública realizado pelos cristãos para se prepararem para a Quaresma. O historiador e teólogo Gerson Leite de Moraes destaca que essa celebração surgiu nas primeiras comunidades cristãs como um momento dedicado à reflexão, ao arrependimento e à renovação espiritual. O rito foi incorporado oficialmente à liturgia pelo papa Gregório Magno, entre os anos 540 e 604, e passou a ser chamado de “capite ieiunii”, que significa o dia de início do jejum.

Relatos históricos apontam que, nos primeiros tempos, a cerimônia acontecia em silêncio e era conduzida pessoalmente pelo papa em procissões discretas pelas redondezas das basílicas de Santa Anastácia e Santa Sabina, em Roma.

As cinzas utilizadas nesse ritual possuem forte base bíblica e carregam duas principais simbologias: a primeira remete à efemeridade da vida, como destaca o trecho do Gênesis, no qual Deus diz a Adão: “És pó e ao pó voltarás”; e a segunda reforça a ideia do arrependimento, presente em passagens como a do livro de Jonas, em que o povo cobre-se de cinzas como sinal de penitência.

Diversos outros livros da Bíblia fazem referência ao uso das cinzas tanto como símbolo de purificação e penitência quanto como lembrete da vulnerabilidade humana. Em Jó, Isaías, Números, Samuel e nos evangelhos, aparecem menções a esse gesto, seja em lamentos, orações ou arrependimentos coletivos. No Novo Testamento, há ainda episódios em que Jesus menciona cidades que teriam se convertido se tivessem praticado penitência cobrindo-se de saco e cinza.

O padre Eugênio Ferreira de Lima explica que as cinzas convidam os fiéis a refletir sobre a brevidade da vida terrena e a urgência de buscar uma transformação interior. Para ele, a Quaresma é um período dedicado não apenas à introspecção, mas também ao acolhimento da Palavra de Deus e à percepção da presença de Cristo no próximo, especialmente naqueles que sofrem com fome, injustiça e abandono.

Para o teólogo Gerson Leite de Moraes, a Quarta-Feira de Cinzas é uma celebração de grande profundidade espiritual. Mais do que um simples rito, marca o início de um tempo que convoca à autorreflexão e ao fortalecimento da fé, com o propósito de renovação pessoal e de preparação para viver plenamente o significado da Páscoa.



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