O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) tem ganhado destaque nos últimos anos devido ao aumento expressivo no número de diagnósticos, o que tem gerado tanto maior conscientização quanto questionamentos sobre a real abrangência clínica do transtorno. No Brasil, a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) estima que cerca de dois milhões de pessoas convivam com essa condição.
O crescimento nos casos diagnosticados reacende discussões sobre possíveis excessos e equívocos na identificação do TDAH. É importante reforçar que nem toda dificuldade de concentração ou agitação indica a presença do transtorno, o que torna fundamental diferenciá-lo de outras condições com sintomas semelhantes.
Diagnóstico equivocado pode trazer prejuízos
Um diagnóstico incorreto pode causar impactos negativos significativos. Medicamentos estimulantes, frequentemente usados no tratamento do TDAH, podem ser ineficazes ou até prejudiciais quando prescritos sem necessidade, provocando efeitos colaterais como insônia, perda de apetite e aumento de quadros de ansiedade e depressão. Além disso, identificar erroneamente o TDAH pode atrasar o tratamento adequado de outras condições, como dificuldades de aprendizagem e transtornos emocionais que apresentam sintomas parecidos.
Por isso, é fundamental entender que sinais como desatenção e inquietação podem ter diversas origens. Distúrbios como ansiedade, depressão e problemas no sono podem manifestar sintomas semelhantes aos do TDAH, o que torna a avaliação criteriosa indispensável. Um dos maiores riscos do hiperdiagnóstico está justamente em tratar apenas os sintomas aparentes sem investigar as causas reais do problema. Para evitar erros, o processo de diagnóstico deve levar em conta o histórico do paciente, o impacto dos sintomas na rotina e informações fornecidas por familiares e professores.
Cuidado com o autodiagnóstico e a popularização do tema
Com o aumento das discussões sobre o TDAH, cresce também o número de pessoas que acreditam ter o transtorno sem nunca terem passado por avaliação médica. O autodiagnóstico, muitas vezes baseado em informações de questionários online ou conversas informais, pode gerar uma percepção distorcida dos próprios sintomas.
A neurologista Susanna Mierau, no artigo “Do I Have ADHD? Diagnosis of ADHD in Adulthood and Its Mimics in the Neurology Clinic”, publicado este ano na revista Neurology, explica que muitos adultos que buscam diagnóstico já conhecem previamente os critérios do transtorno, o que pode influenciar a interpretação dos próprios comportamentos. Segundo Mierau, "com o amadurecimento e maior consciência na vida adulta, as pessoas percebem que executam tarefas de modo diferente dos demais, o que as leva a procurar uma avaliação para TDAH". Muitas vezes, essa busca surge da comparação com outras pessoas e da avaliação subjetiva do próprio rendimento.
A importância do diagnóstico criterioso
Quando realizado com atenção e responsabilidade, o diagnóstico de TDAH pode transformar vidas, proporcionando tratamentos eficazes que melhoram o desempenho escolar, profissional e a qualidade de vida. Porém, diante dos riscos de hiperdiagnóstico e autodiagnóstico, é indispensável que essa avaliação seja feita por especialistas experientes, utilizando métodos confiáveis e baseados em evidências.
O TDAH não deve ser usado como explicação generalizada para dificuldades cotidianas, mas sim tratado como uma condição séria, que exige análise detalhada e profissional para garantir que o diagnóstico e o tratamento sejam adequados e eficazes.