21/03/2025 11:45:04

Acidente
03/03/2025 18:00:00

Remédio chinês contra câncer de pulmão supera o mais vendido do mundo

Remédio chinês contra câncer de pulmão supera o mais vendido do mundo

O DeepSeek surpreendeu ao apresentar uma inovação inesperada com preço acessível, e esse avanço disruptivo também tem se manifestado discretamente no setor farmacêutico. Em setembro, a Akeso, uma empresa chinesa de biotecnologia fundada há quase dez anos, impactou o mercado ao lançar um novo medicamento para câncer de pulmão.

Chamado ivonescimab, o remédio demonstrou resultados superiores ao Keytruda — tratamento de sucesso da Merck, responsável por mais de US$ 130 bilhões em vendas — durante testes realizados na China. Pacientes que utilizaram o medicamento da Akeso permaneceram por 11,1 meses antes do avanço dos tumores, enquanto aqueles que usaram o Keytruda registraram 5,8 meses, segundo dados apresentados na Conferência Mundial sobre Câncer de Pulmão, um importante evento da área médica.

Após o anúncio, as ações da Summit Therapeutics, parceira da Akeso nos Estados Unidos e responsável pela comercialização do produto na América do Norte e Europa, mais que dobraram em valor, conforme dados da Refinitiv. Embora o lançamento tenha sido considerado um marco para a indústria farmacêutica chinesa, inicialmente recebeu pouca atenção fora do setor. Porém, o destaque recente dado à DeepSeek aumentou o interesse global sobre os polos de inovação na China e seus impactos crescentes.

Michelle Xia, CEO da Akeso, afirmou em entrevista à BiotechTV que a biotecnologia chinesa terá papel relevante em nível global, com participação cada vez maior. Em nota enviada à CNN, a empresa descreveu como um momento extraordinário ver seu medicamento superar o Keytruda, reforçando que seu trabalho é resultado de profundo conhecimento da biologia da doença, engenharia de proteínas e desenvolvimento ágil, além da qualificada mão de obra na China.

O setor de biotecnologia chinês vem ganhando destaque nas últimas décadas. Até os anos 1980, a maioria das farmacêuticas do país eram estatais e focadas na reprodução de medicamentos já existentes. Contudo, nos últimos dez anos, essas empresas passaram a desenvolver tratamentos inovadores e fecharam acordos bilionários com parceiros internacionais para ampliar sua atuação global. Exemplos incluem a AstraZeneca, que firmou um contrato de US$ 1,92 bilhão com o CSPC Pharmaceutical Group para medicamentos cardiovasculares, e a Merck, que tem parceria de US$ 2 bilhões com a Hansoh Pharmaceutical para o desenvolvimento de uma pílula experimental para perda de peso.

Segundo Rebecca Liang, analista farmacêutica da AB Bernstein, apesar do crescimento acelerado da biotecnologia chinesa ser conhecido, poucos acreditavam que ela pudesse rivalizar com os principais inovadores dos EUA. Essa percepção, no entanto, começa a mudar com o surgimento de medicamentos de ponta que demonstram avanços significativos.

Relatório do HSBC Qianhai Securities apontou que a China se tornou um centro global de inovação no setor, com o número de acordos de licenciamento subindo de 46, em 2017, para mais de 200 no ano passado. Nesse período, o valor total desses acordos aumentou de US$ 4 bilhões para US$ 57 bilhões. Dados da Mergermarket também indicam um crescimento de quase 30% nas grandes transações farmacêuticas envolvendo empresas chinesas em 2024.

Para Cui Cui, diretor de pesquisa em saúde da Jefferies, o progresso das biotecnológicas chinesas reflete o forte apoio governamental, investimentos estrangeiros e a qualificação dos profissionais locais. Ele acredita que, se antes essas empresas eram vistas apenas como replicadoras, hoje estão cada vez mais preparadas para competir com as maiores farmacêuticas globais.

Apesar do sucesso internacional da Akeso, persiste na China o debate sobre a qualidade dos medicamentos genéricos nacionais, que possuem os mesmos princípios ativos dos patenteados, porém com preços mais baixos. A desconfiança sobre esses produtos é antiga, e recentemente ressurgiu após questionamentos sobre sua eficácia, o que levou a uma investigação oficial. As autoridades de saúde do país garantiram que as preocupações eram infundadas, mas a preferência por medicamentos importados ainda é comum entre os consumidores.

Moradores de Pequim relataram à CNN que desconhecem a Akeso e seu novo medicamento, mantendo preferência por tratamentos estrangeiros, muitas vezes associando preços mais altos à maior eficácia. Além disso, agências reguladoras dos EUA já recusaram anteriormente medicamentos desenvolvidos na China, alegando falhas metodológicas em testes clínicos.

O ivonescimab já foi aprovado na China para determinados pacientes com câncer de pulmão, mas ainda deve levar alguns anos para estar disponível nos EUA. Um estudo global está previsto para começar no final deste ano, com o objetivo de comprovar ainda mais a eficácia do medicamento, o que poderá consolidar a posição da China como referência no desenvolvimento de tratamentos inovadores.



Enquete
Você acreedita que Bolsonaro armou um golpe de estado?
Total de votos: 80
Google News