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Guerra
03/03/2025 17:00:00

Europa sem EUA consegue deter Rússia na guerra da Ucrânia?

Europa sem EUA consegue deter Rússia na guerra da Ucrânia?

Donald Trump demonstrou mais confiança nas forças armadas britânicas do que muitos generais do próprio Reino Unido, incluindo membros aposentados dos altos escalões militares. Durante uma coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro britânico, Trump destacou a competência dos militares do país e afirmou que "os britânicos têm soldados incríveis e podem cuidar de si mesmos". Ainda assim, deixou no ar a dúvida sobre a real capacidade do Reino Unido enfrentar a Rússia em um eventual conflito.

Enquanto em público oficiais americanos elogiam o profissionalismo dos militares britânicos, nos bastidores há críticas frequentes aos cortes no orçamento de defesa, que reduziram o efetivo do Exército Britânico para pouco mais de 70 mil soldados. Dados do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos apontam que os gastos militares da Rússia já superam o total investido em defesa por toda a Europa, considerando o poder de paridade de compra. Atualmente, os russos destinam cerca de 6,7% do PIB ao setor militar, enquanto o Reino Unido pretende alcançar 2,5% até 2027.

As declarações de Trump ressaltam sua falta de intenção de enviar tropas americanas para atuar em solo ucraniano a fim de garantir um cessar-fogo. Caso haja presença dos EUA na região, o foco será econômico, com interesse em atividades de mineração, algo que, segundo o presidente, pode servir de obstáculo a novos ataques russos. Ainda assim, dentro do próprio governo americano há quem defenda alguma demonstração de força, delegando essa tarefa às nações europeias.

O desafio para a Europa vai além da disposição política: envolve também a capacidade militar. Segundo especialistas, o continente não teria condições de reunir os 100 mil a 200 mil soldados solicitados pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky para proteger o país de novas investidas russas. No máximo, autoridades europeias discutem a formação de uma força de até 30 mil soldados, apoiada por caças e navios de guerra, com o objetivo de proteger locais estratégicos, como cidades, portos e usinas nucleares, sem atuação próxima às linhas de frente.

Mesmo com esses esforços, líderes europeus reconhecem que tal força não seria suficiente para impedir a Rússia, o que motiva os pedidos por garantias de segurança dos EUA. Além da supervisão e do comando estratégico, os americanos seriam essenciais com suas capacidades de inteligência, vigilância e com aeronaves de prontidão em bases na Polônia e Romênia. Embora a Europa tenha superado os EUA na quantidade de armamentos enviados à Ucrânia, são os americanos que fornecem os equipamentos mais avançados, como mísseis de longo alcance e sistemas de defesa aérea. Além disso, a logística para envio de armas depende majoritariamente dos EUA.

O histórico recente também reforça essa dependência. Na campanha de bombardeio da Otan sobre a Líbia, em 2011, os países europeus assumiram a liderança da operação, mas precisaram recorrer ao apoio logístico dos EUA, como reabastecimento aéreo e equipamentos especializados.

Após sua visita a Washington, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer voltou sem garantias concretas de apoio militar por parte dos EUA. Segundo o Secretário de Saúde do Reino Unido, Wes Streeting, o compromisso de Trump com o Artigo 5 da Otan poderia ser suficiente para garantir uma resposta americana em defesa dos aliados. Porém, o Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, já afirmou que eventuais tropas internacionais enviadas à Ucrânia não seriam parte da Otan e, portanto, não estariam cobertas pelo tratado.

Sem uma proteção formal da Otan, a Europa se vê desafiada a demonstrar força e unidade. Starmer, que reuniu líderes europeus, do Canadá e da Turquia em Londres, expôs um plano de ajuda à Ucrânia, no qual cada nação se comprometeria a ampliar seu apoio. Os líderes presentes concordaram com quatro medidas principais: manter o fornecimento de ajuda militar à Ucrânia e aumentar a pressão econômica sobre a Rússia; garantir a soberania e segurança da Ucrânia em qualquer eventual acordo de paz; prevenir futuras invasões russas após um possível tratado; e formar uma "coalizão dos dispostos" para proteger a Ucrânia, com possibilidade de incluir aliados de fora da Europa.

Starmer reforçou a necessidade de acelerar os preparativos diante da gravidade da situação e afirmou que o Reino Unido está pronto para apoiar a Ucrânia tanto com tropas em solo quanto com aeronaves em operação. Ainda assim, destacou a importância de um alinhamento com os EUA para assegurar o sucesso de qualquer iniciativa.

Apesar dos avanços diplomáticos e militares discutidos, a resposta à pergunta levantada por Trump permanece negativa. Mesmo com as forças russas enfraquecidas, o Reino Unido, isoladamente, não teria condições de enfrentar a Rússia. Agora, diante do cenário incerto, líderes europeus tentam transformar discursos em ações concretas para evitar que a Ucrânia fique ainda mais vulnerável e garantir um plano eficaz para a paz e a segurança do continente.