Em entrevista concedida neste domingo (2/3) à BBC, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou estar convicto de que Donald Trump busca uma paz duradoura entre Rússia e Ucrânia.
Starmer destacou ainda que Reino Unido e França unirão esforços ao lado de Kiev para buscar um entendimento com Moscou e, posteriormente, apresentarão essa proposta aos Estados Unidos.
No sábado (1/3), o governo britânico anunciou um empréstimo de £ 2,26 bilhões (cerca de R$ 19 bilhões) à Ucrânia, reforçando seu apoio aos esforços de defesa do país contra a invasão russa.
Esses desdobramentos ocorreram após o tenso embate entre Donald Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, na sexta-feira (28/3), episódio que gerou manifestações de solidariedade à Ucrânia por parte de diversos líderes europeus.
O encontro entre Trump e Zelensky, realizado no Salão Oval da Casa Branca, acabou se transformando em um acalorado confronto diante da imprensa.
Questionado sobre o episódio, Starmer lamentou a tensão exposta diante das câmeras e reforçou que situações como essa não são desejáveis no cenário internacional.
Segundo o premiê, após conversas com Zelensky, Trump e o presidente francês Emmanuel Macron, foi definido que Londres, Paris e possivelmente outros países colaborarão na elaboração de um plano para encerrar o conflito. A proposta será posteriormente discutida com Washington.
"Estamos avançando na direção certa", avaliou Starmer.
Para ele, três pilares são fundamentais para garantir uma paz sustentável: uma Ucrânia forte e capaz de negociar, a presença europeia com garantias de segurança e o suporte dos Estados Unidos. "Todos esses elementos são indispensáveis", reforçou.
Starmer também demonstrou confiança tanto em Trump quanto em Zelensky, reconhecendo que este é um momento frágil para a Europa. Neste domingo, o premiê organiza uma cúpula com líderes europeus dedicada ao tema da paz na Ucrânia, com a participação da delegação ucraniana.
Durante encontro privado com Zelensky, Starmer reiterou o compromisso britânico com a Ucrânia: "Estaremos ao lado da Ucrânia pelo tempo que for necessário", declarou, enfatizando sua determinação em alcançar uma paz duradoura.
Zelensky, por sua vez, agradeceu o apoio e confirmou uma reunião com o rei Charles III. O presidente ucraniano classificou o encontro com Starmer como "significativo e caloroso", comemorando ainda o anúncio do empréstimo de £ 2,26 bilhões, que será financiado com recursos provenientes de ativos russos congelados.
Os valores serão destinados à indústria de defesa ucraniana. "Essa é a verdadeira justiça: quem iniciou a guerra deve arcar com os custos. Somos gratos ao povo e ao governo britânico pelo apoio contínuo", afirmou Zelensky.
O embate televisivo entre Trump, seu vice JD Vance e Zelensky foi considerado inédito e gerou preocupações quanto à relação entre EUA e Europa.
Para Jeremy Bowen, editor internacional da BBC, esse episódio marca uma crise perigosa no cenário transatlântico e levanta dúvidas sobre o compromisso americano com a segurança europeia, incluindo a manutenção do apoio à Ucrânia.
A expectativa, segundo analistas, é que a pressão sobre os aliados europeus aumente, compensando eventuais lacunas deixadas por Washington.
Diversos líderes europeus expressaram apoio à Ucrânia após o episódio. Emmanuel Macron, Olaf Scholz, Giorgia Meloni e Ursula von der Leyen reforçaram a importância de manter a ajuda ao país e destacaram que a Rússia continua sendo a agressora do conflito.
Declarações semelhantes vieram de líderes da Espanha, Suécia, Polônia, Noruega e Canadá. Em resposta, Zelensky agradeceu publicamente pelo suporte.
Já a Rússia, por meio da porta-voz Maria Zakharova, acusou Zelensky de mentir no encontro com Trump e ironizou a contenção do líder americano durante a discussão.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou o embate na Casa Branca como uma "cena grotesca" e afirmou que Zelensky foi humilhado. Para Lula, o episódio prejudicou a União Europeia e expôs a falta de respeito no ambiente diplomático.
Em discurso no Uruguai, Lula defendeu que a solução passa pelo diálogo e reiterou que a paz só será alcançada com o envolvimento direto dos líderes russos e ucranianos. "O mundo precisa de paz, não de mais guerra", concluiu.
De acordo com Lyse Doucet, correspondente-chefe da BBC, o momento exige a construção de uma nova estrutura global de apoio. Apesar do choque inicial com o confronto na Casa Branca, cresce a urgência por uma solução que mantenha a aliança ocidental e fortaleça a Ucrânia.
"A pressão agora recai sobre os EUA e a Europa para garantirem que Kiev não enfrente essa batalha sozinha", avaliou Doucet, destacando que alianças históricas estão sendo desafiadas e que o mundo vive um momento crucial de reconfiguração diplomática.