O Carnaval, uma das festas mais populares do mundo, tem origens que remontam a diferentes civilizações. Na cidade alemã de Colônia, por exemplo, há registros de celebrações semelhantes há mais de dois mil anos, quando a região fazia parte do Império Romano. Na época, acontecia a Saturnália, um festival dedicado ao deus Saturno, marcado por muita comida, bebida e inversão de papéis sociais, onde escravos eram temporariamente tratados como senhores.
Um elemento curioso dessa festividade era a procissão do "Carrus Navalis", um carro alegórico que desfilava acompanhado por música e foliões fantasiados, e que pode ter influenciado o termo “Carnaval”.
Enquanto isso, os povos germânicos também realizavam celebrações próprias na primavera, com máscaras assustadoras e ruídos altos para espantar os espíritos do inverno. Essa tradição de máscaras continua presente em algumas regiões da Alemanha até hoje.
Com a oficialização do cristianismo como religião do Império Romano pelo imperador Constantino no século IV, as festividades pagãs foram adaptadas aos rituais da Igreja. O período que antecedia a Quaresma, marcado por 40 dias de jejum e penitência, tornou-se um momento de celebração, sendo permitido aos fiéis aproveitarem o que restava de festas e banquetes antes da restrição. Foi daí que surgiu a expressão "carne vale", que significa "despedida da carne" em latim, dando origem ao nome Carnaval.
Os colonizadores espanhóis e portugueses levaram essa tradição para suas colônias na América Latina. No Brasil, uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma brincadeira de origem portuguesa em que as pessoas jogavam lama, água e até urina umas nas outras. Essa prática foi proibida em 1841.
Embora o Carnaval tenha passado a ser supervisionado pela Igreja, padres e bispos continuaram vendo a festa com desconfiança. Ainda assim, certas tradições se mantiveram, como a eleição de um “Papa Tolo”, que chegava às igrejas montado em um burro em tom de paródia.
Em Colônia, durante o século XVIII, a burguesia também passou a moldar a festa de acordo com seus interesses. Enquanto os jovens realizavam apresentações satíricas nas ruas, a aristocracia organizava luxuosos bailes de máscaras.
No século XIX, a ocupação napoleônica tentou restringir os festejos, mas sem sucesso. Após o domínio prussiano em 1815, a cidade de Colônia viu um Carnaval cada vez mais descontrolado. Em resposta, líderes influentes criaram um comitê organizador em 1823, estabelecendo um desfile oficial e figuras icônicas, como o "Príncipe do Carnaval de Colônia" e a "Virgem de Colônia", esta última sempre interpretada por um homem.
O Carnaval alemão tem um detalhe peculiar: sua temporada inicia-se anualmente no dia 11 de novembro (11/11), às 11h11. O número 11 tem um significado especial na cultura medieval, sendo considerado um “número dos loucos”, simbolizando a irreverência dos foliões. Além disso, marcava o início de um período de festividades antes do jejum do Natal.
Com o tempo, o Carnaval se consolidou como um momento de celebração coletiva, unindo tradições ancestrais e elementos religiosos. Seja na Europa ou na América Latina, sua essência continua sendo a alegria, a fantasia e a liberdade de expressão.