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Meio Ambiente
28/02/2025 15:15:00

Fuligem de queimadas na Amazônia acelera derretimento de geleiras na Antártida, revela estudo

Fuligem de queimadas na Amazônia acelera derretimento de geleiras na Antártida, revela estudo

As queimadas na Amazônia estão contribuindo para o derretimento das geleiras na Península Antártica, a milhares de quilômetros de distância. Um estudo publicado na revista Science Advances aponta que a fuligem liberada pelos incêndios na floresta viaja até o continente gelado, onde intensifica o degelo. Além disso, navios turísticos e instalações científicas na região são responsáveis por metade da fuligem acumulada no local, agravando ainda mais o problema.

Embora o aquecimento global seja a principal causa da perda de gelo na Antártida, cientistas identificaram que a fuligem tem um impacto significativo. Desde os anos 1970, queimadas na América do Sul liberam até 800 mil toneladas de fuligem anualmente — volume quase duas vezes maior do que as emissões do uso de combustíveis fósseis na Europa. Essas partículas minúsculas são transportadas pelos ventos e percorrem mais de 6 mil quilômetros, chegando à Antártida em menos de duas semanas.

Ao pousar sobre a neve e o gelo, a fuligem absorve calor, criando pequenas poças de água ao seu redor e acelerando o derretimento das geleiras. Segundo o climatologista Heitor Evangelista, líder do estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), cada metro quadrado da Península Antártica perde aproximadamente 150 gramas de gelo por dia devido a esse processo. Embora pareça uma quantidade pequena, o impacto é alarmante considerando a imensidão da região, que já registra as temperaturas mais altas dos últimos dois mil anos.

Turismo e instalações científicas também contribuem para o problema

Além da fuligem trazida das queimadas amazônicas, o turismo crescente na Antártida e as operações científicas também desempenham um papel relevante na aceleração do derretimento. Amostras de gelo e ar coletadas na região revelaram altos níveis de substâncias associadas à queima de combustíveis fósseis, indicando que navios, aviões, helicópteros e geradores a diesel são fontes significativas de poluição.

O turismo na Antártida triplicou na última década, atingindo 123 mil visitantes na temporada 2023-24, sendo que 80 mil desembarcaram no continente. Expedições de luxo, algumas custando mais de 600 mil reais, incluem atividades como caminhadas entre pinguins e acampamentos sofisticados. Um estudo chileno de 2022 já havia detectado altos níveis de fuligem próximos a áreas de desembarque turístico e bases científicas, mas os impactos combinados com a poluição trazida de outras regiões só agora começam a ser compreendidos.

A pesquisa da UERJ aponta que a fuligem proveniente da Amazônia atinge seu pico no inverno antártico, período de maior incidência de incêndios no Brasil. Já a fuligem gerada pelo turismo predomina no verão, quando o gelo está mais vulnerável.

Impactos globais do derretimento das geleiras

O derretimento acelerado na Antártida tem consequências diretas para o aumento do nível do mar. Relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que o escoamento da água proveniente das geleiras já é a principal causa da elevação do nível oceânico global.

Plataformas de gelo que atuam como barreiras naturais para o gelo continental estão se tornando instáveis. A Geleira Thwaites, conhecida como a "geleira do fim do mundo", já apresenta sinais de colapso, o que pode elevar o nível do mar entre 90 centímetros e 3 metros nas próximas décadas.

Com a Antártida concentrando 90% do gelo do planeta, qualquer mudança no equilíbrio da região pode ter efeitos catastróficos para comunidades costeiras. Segundo estimativas da NASA, o nível do mar já subiu 10 centímetros nos últimos 30 anos, causando inundações, erosão e salinização de aquíferos.

Cerca de 1 bilhão de pessoas vivem em áreas vulneráveis à elevação do mar. Países pobres e estados insulares, como Tuvalu e Kiribati, enfrentam desafios ainda maiores, pois não possuem recursos para construir diques e barreiras contra o avanço das águas. O IPCC alerta que os custos globais de adaptação podem ultrapassar US$ 2,2 trilhões anuais até o fim do século, tornando inviável a proteção de todas as regiões ameaçadas.

O impacto desigual da crise climática evidencia como o derretimento das geleiras pode intensificar desigualdades sociais e gerar novas ondas de refugiados climáticos. A fuligem das queimadas na Amazônia, o turismo na Antártida e a queima de combustíveis fósseis são apenas algumas das forças que contribuem para um problema global, cujos efeitos serão sentidos de maneira mais severa pelos países menos desenvolvidos.



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