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História
22/02/2025 00:00:00

Vitória na Segunda Guerra Definiu os Rumos do Brasil: Da ONU ao Golpe Militar

Brasil foi o único país sul-americano a enviar tropas ao front, consolidando sua posição internacional e impactando a política nacional

Vitória na Segunda Guerra Definiu os Rumos do Brasil: Da ONU ao Golpe Militar

Na madrugada de 21 de fevereiro de 1944, após uma intensa batalha, os soldados brasileiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) conquistaram Monte Castello, na Itália, uma posição estratégica até então dominada pelos nazistas. Foram necessários seis ataques entre novembro de 1944 e fevereiro de 1945 para que os brasileiros, sob o comando do general Mascarenhas de Moraes, finalmente tomassem o local. A vitória marcou um ponto de virada para as forças Aliadas e consolidou o papel do Brasil no conflito.

A ofensiva decisiva foi comandada pelo general Cordeiro de Farias, que ordenou uma artilharia intensa contra as posições inimigas entre as 16h e 17h, permitindo o avanço das tropas brasileiras sobre os alemães. O episódio foi crucial para a ruptura da "Linha Gótica", uma das últimas barreiras defensivas do Eixo na Europa.

A Importância da Vitória em Monte Castello

A historiadora Bruna Gomes dos Reis, pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que a conquista de Monte Castello teve um impacto significativo na Segunda Guerra, pois ajudou a acelerar o fim do conflito na Europa. A barreira formada pelos nazistas nos Apeninos tinha como objetivo conter o avanço dos Aliados rumo à Alemanha. Sua queda foi um marco estratégico, além de reforçar a presença do Brasil entre as nações vencedoras.

O tenente-coronel e historiador militar Durval Lourenço Pereira ressalta que, embora a vitória tenha sido crucial para o Exército brasileiro, sua importância na guerra como um todo foi menor. No entanto, destaca que o feito foi inédito: nunca antes uma nação sul-americana havia derrotado uma potência europeia no campo de batalha.

A socióloga Carolina Pavese, professora do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), complementa que, embora a batalha tenha um peso secundário no panorama global, foi o evento mais importante na história militar brasileira moderna. A participação da FEB rompeu o isolamento internacional do Brasil e abriu espaço para sua atuação fora do continente americano.

A Entrada do Brasil na Guerra

O Brasil declarou guerra ao Eixo em agosto de 1942, após uma série de ataques de submarinos alemães e italianos a navios mercantes brasileiros, resultando na morte de 1.074 pessoas. Até então, o governo de Getúlio Vargas mantinha uma posição neutra, equilibrando relações comerciais tanto com os Estados Unidos quanto com a Alemanha.

O país passou a fornecer matérias-primas essenciais para os Aliados e permitiu a instalação de bases militares americanas no Nordeste. Em janeiro de 1943, Vargas se reuniu com o presidente Franklin Roosevelt em Natal, discutindo os termos da participação brasileira no conflito. O Brasil queria ser mais do que um mero fornecedor: desejava um papel ativo para garantir presença na política internacional do pós-guerra.

O Desafio de Formar um Exército de Guerra

Com um contingente militar reduzido, o Brasil precisou recrutar novos soldados para compor a FEB. Inicialmente, o alistamento foi voluntário, mas a baixa adesão levou à convocação obrigatória de reservistas. Assim, em 9 de agosto de 1943, foi criada oficialmente a Força Expedicionária Brasileira.

A maioria dos combatentes era composta por soldados de baixa patente e civis sem experiência militar. Como relata João Barone, músico e pesquisador da Segunda Guerra, os pracinhas foram selecionados por meio de um rigoroso processo que excluía candidatos em más condições de saúde. Apenas um a cada três voluntários era considerado apto.

O treinamento foi intenso, mas, ao chegar à Itália, os soldados enfrentaram dificuldades com o rigoroso inverno europeu e com a adaptação ao campo de batalha. A FEB também contava com cerca de 100 mulheres, atuando principalmente como enfermeiras.

O termo "pracinha" foi popularizado pela imprensa da época e se tornou um apelido carinhoso para os combatentes. Segundo o tenente-coronel Pereira, a FEB era formada por jovens de diversas partes do país, muitos vindos do interior. A "Canção do Expedicionário", de Guilherme de Almeida, retrata essa diversidade regional.

Legados da Participação Brasileira na Guerra

A vitória em Monte Castello elevou a moral da FEB e garantiu ao Brasil um papel mais ativo no cenário internacional. Durante os nove meses de combate na Itália, de setembro de 1944 a maio de 1945, 478 brasileiros perderam a vida, uma média de dois por dia.

No pós-guerra, o Brasil se tornou um dos países fundadores da ONU, garantindo uma posição de destaque na política global. Desde então, as Forças Armadas participaram de mais de 50 missões de paz ao redor do mundo.

Internamente, a participação na guerra reforçou o nacionalismo dentro do Exército. A experiência do conflito fortaleceu um sentimento patriótico entre os militares, que passaram a se ver como protagonistas na política nacional. Esse ethos militarista, anos depois, ajudaria a justificar o golpe de 1964.

A historiadora Bruna Gomes dos Reis ressalta que a entrada do Brasil na guerra contra o nazifascismo também enfraqueceu essas ideologias no país. No entanto, como destaca Carolina Pavese, o prestígio adquirido pelos militares criou um ambiente propício para sua crescente influência política.

Comemorações dos 80 Anos da Batalha

Para marcar os 80 anos da conquista de Monte Castello, a cidade de Gaggio Montano, na Itália, realizará eventos comemorativos, incluindo homenagens aos 103 soldados brasileiros que perderam a vida na última investida.

O embaixador brasileiro na Itália, Renato Mosca de Souza, destaca a importância de lembrar a participação da FEB como um alerta para a defesa da liberdade e da democracia. Ele afirma que celebrar esse marco histórico também significa reafirmar o compromisso com a paz e os valores democráticos.



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