O relatório anual do Instituto Fogo Cruzado revela dados alarmantes sobre a violência armada nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Recife, Belém e Salvador em 2024. Com um total de 6.769 tiroteios registrados, o estudo aponta para um cenário de extrema violência, com 5.936 pessoas baleadas, 4.104 mortos e 1.832 feridos. Quase um terço (29%) desses tiroteios ocorreram durante ações policiais, destacando o impacto das operações de segurança pública na escalada da violência.
Rio de Janeiro:
Tiroteios: 2.532 ocorrências em 2024, com média de sete tiroteios diários.
Ações policiais: 36% dos tiroteios foram relacionados a operações policiais, a maior proporção já registrada.
Impacto na educação e saúde: 1.968 unidades de ensino e 1.136 unidades de saúde foram afetadas.
Crianças baleadas: 26 crianças até 11 anos foram baleadas, o maior número da série histórica.
Pernambuco (Recife):
Tiroteios: 1.748 ocorrências em 2024, uma redução de 4% em relação a 2023, mas ainda o segundo maior número da série histórica.
Vítimas: 97% dos tiroteios resultaram em vítimas, o índice mais alto entre os estados analisados.
Crianças e adolescentes baleados: 147 jovens foram baleados, com 101 mortes, um recorde desde 2019.
Bahia (Salvador):
Tiroteios: 1.795 ocorrências em 2024, uma leve redução de 0,4% em relação a 2023.
Ações policiais: 38% dos tiroteios foram durante operações policiais.
Chacinas: 27 chacinas resultaram em 92 mortes, com 59% desses eventos ligados a ações policiais.
Pará (Belém):
Tiroteios: 694 ocorrências em 2024, com 42% durante ações policiais, o maior índice entre os estados monitorados.
Vítimas: 686 pessoas foram baleadas, com 96 vítimas em ataques armados e apenas duas por balas perdidas.
Cecília Olliveira, diretora-executiva do Instituto Fogo Cruzado, destaca que a violência armada continua sendo um grande desafio, com impactos devastadores, especialmente para crianças, adolescentes e comunidades vulneráveis. Ela aponta que a flexibilização do acesso a armas de fogo, combinada com políticas de segurança pública focadas no confronto, tem perpetuado o ciclo de violência.
Entre 2017 e 2023, houve um aumento de 227% no número de armas registradas, chegando a 4,8 milhões de armas em posse da população civil. Além disso, entre 2015 e 2024, 51 mil pessoas morreram em confrontos com agentes de segurança.
Olliveira defende a urgência de políticas públicas coordenadas e baseadas em evidências, com foco em:
Fiscalização e controle de armas.
Reformulação das estratégias de enfrentamento à violência, com base em dados e inteligência.
Atenção especial às comunidades mais afetadas, com metas claras e planejamento estratégico.
A violência armada é hoje a maior preocupação dos brasileiros, superando até mesmo questões de saúde e educação. O relatório do Fogo Cruzado reforça a necessidade de ações urgentes e eficazes para combater esse cenário alarmante.