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História
19/02/2025 16:00:00

Josef Mengele, o "Anjo da Morte" nazista, viveu anos no Brasil e quase cruzou com sobrevivente de Auschwitz

Josef Mengele, o

Josef Mengele, um dos criminosos nazistas mais procurados do mundo, viveu quase duas décadas no Brasil após fugir da Europa no fim da Segunda Guerra Mundial. Nos anos 1960, ele chegou a estar na mesma região que Cecília Gewertz, uma sobrevivente de Auschwitz, em Serra Negra (SP), a 150 km da capital paulista. A história é contada no livro Baviera Tropical, da jornalista Betina Anton, que entrevistou vítimas de Mengele e revela detalhes inéditos sobre sua vida no Brasil.

Mengele e seus crimes em Auschwitz
Mengele, conhecido como "Anjo da Morte", foi um dos responsáveis por condenar centenas de milhares de pessoas à morte no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Ele realizou experimentos macabros, especialmente com gêmeos e pessoas com nanismo ou deficiências, em nome de sua crença na superioridade da "raça ariana". Após a derrota da Alemanha nazista, Mengele fugiu para a Argentina, depois para o Paraguai e, finalmente, para o Brasil, onde viveu até sua morte em 1979.

Vida no Brasil: regalias e impunidade
No Brasil, Mengele encontrou uma rede de apoio que lhe permitiu viver com relativo conforto. Ele morou em cidades como São Paulo e Serra Negra, onde foi abrigado por famílias de origem alemã. Apesar de sua ficha criminosa, ele nunca foi capturado. O livro de Betina Anton revela que Mengele desfrutava de uma vida tranquila: passeava, frequentava livrarias alemãs, escrevia cartas e mantinha contato com a comunidade germânica no país.

O encontro que quase aconteceu
Cecília Gewertz, sobrevivente de Auschwitz que morava em São Paulo, passava temporadas em Serra Negra. Certo dia, um menino da região alertou que Mengele estava na cidade. Apesar de não haver confirmação sobre a origem da informação, Cecília, traumatizada pelos horrores que viveu, entrou em pânico e deixou o local imediatamente. Ela nunca mais voltou a Serra Negra.

A rede de apoio a nazistas no Brasil
Mengele não foi o único criminoso nazista a encontrar refúgio no Brasil. Franz Stangl, comandante dos campos de extermínio de Treblinka e Sobibor, também viveu no país e trabalhou abertamente na Volkswagen. A comunidade alemã em São Paulo, embora nem todos soubessem da identidade de Mengele, desempenhou um papel crucial em abrigá-lo.

As cartas de Mengele
Em 1985, a Polícia Federal apreendeu 80 cartas escritas por Mengele durante sua estadia no Brasil. O material, analisado por Betina Anton, revela que ele nunca demonstrou arrependimento pelos crimes cometidos. As cartas também mostram que ele desfrutava de uma vida confortável, contrariando a narrativa de seu filho, Rolf Mengele, que afirmou que o pai viveu de forma miserável no Brasil.

O legado de horror e a luta pela memória
Cecília Gewertz, que faleceu em 2018 aos 96 anos, compartilhou suas experiências com os netos, que criaram o projeto Sobre viver o Holocausto para preservar a memória das vítimas. Para Marcelo Gewertz, neto de Cecília, perpetuar essas histórias é essencial para combater o antissemitismo e evitar que atrocidades como o Holocausto se repitam.

O antissemitismo no Brasil hoje
O Brasil ainda enfrenta desafios relacionados ao antissemitismo. Segundo pesquisa da antropóloga Adriana Dias, há mais de 530 grupos neonazistas ativos no país. Para sobreviventes como Marika Gidali, fundadora do Ballet Stagium em São Paulo, negar o Holocausto é apagar a história. "Como é possível alguém negar ou relativizar um momento histórico? Será que acham que estamos todos mentindo?", questiona.

A importância de lembrar
Marcelo Gewertz enfatiza que a terceira geração, netos de sobreviventes, tem a responsabilidade de manter viva a memória do Holocausto. "Daqui a pouco, os sobreviventes não estarão mais aqui para contar as histórias deles. Então, penso que cada um tem a responsabilidade de perpetuar essa memória e não deixar que ela caia no esquecimento", afirma.

A história de Josef Mengele no Brasil é um lembrete sombrio de como criminosos de guerra encontraram refúgio em solo brasileiro, mas também destaca a importância de honrar as vítimas e garantir que suas histórias nunca sejam esquecidas.