As tarifas adicionais impostas pelo presidente Donald Trump sobre produtos chineses podem levar a China “muito perto” de uma recessão, segundo o estrategista David Roche, da Quantum Strategy. Ele alertou que os impactos também serão sentidos na economia dos Estados Unidos, conforme reportado pela revista Newsweek.
No último fim de semana, Trump anunciou um novo imposto de 10% sobre produtos chineses, além de uma tarifa de 25% sobre importados do Canadá e do México, que foram postergadas por mais 30 dias. O presidente justificou as medidas como uma resposta ao tráfico ilegal de drogas, incluindo o fentanil, e para conter a imigração ilegal.
Em retaliação, Beijing anunciou tarifas de 10% sobre petróleo bruto, máquinas agrícolas e veículos de grande porte dos EUA, além de um imposto de 15% sobre carvão e gás natural liquefeito. Também serão aplicadas restrições à exportação de metais estratégicos e um inquérito antitruste contra o Google.
“A primeira coisa que isso vai afetar é a confiança, porque os chineses, assim como todo mundo, achavam que Trump usava as tarifas apenas como tática de negociação — e ele não usa. Isso é ideológico para ele, ele acredita deter o Santo Graal”, disse Roche, estimando que a medida pode reduzir o crescimento do PIB chinês entre 0,3% e 0,5%, podendo chegar a 1% caso as tarifas subam para 20%.
A economia chinesa já enfrenta desafios como a crise imobiliária prolongada, alto desemprego entre jovens e um envelhecimento acelerado da população. Apesar do crescimento oficial de 5% registrado no último ano, especialistas questionam a credibilidade dos números apresentados por Beijing.
Nos Estados Unidos, a escalada tarifária pode impactar consumidores, aumentando o custo de vida. “Trump não aprende. Ele não percebe que isso significa que a economia americana vai encolher pelo menos 1% e que a inflação vai subir ao menos 0,8%”, alertou Roche, segundo quem as novas tarifas funcionarão como um imposto indireto sobre as famílias, custando em média US$ 1.000 por ano aos lares americanos.
Trump pode voltar atrás?
Wendy Cutler, do Asia Society Policy Institute, destacou que as tarifas chinesas ainda não entraram em vigor e que uma ligação entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping poderia levar a uma trégua similar à concedida ao Canadá e ao México. “Os chineses só começam a aplicar as tarifas daqui a cinco dias, e isso é muito tempo no mundo de Trump”, afirmou.
Já o economista Kent Jones lembrou que medidas similares adotadas por Trump no passado prejudicaram os consumidores. “A tarifa sobre máquinas de lavar em 2018 elevou o preço do produto em cerca de 12%, aproximadamente US$ 90 por unidade”, escreveu ele em artigo no site The Hill, ressaltando que o impacto foi maior sobre famílias de baixa renda.
A embaixada chinesa nos EUA criticou as novas medidas. “Os Estados Unidos precisam encarar sua própria crise do fentanil de maneira objetiva e racional e valorizar a boa vontade da China, em vez de ameaçar outros países com aumentos arbitrários de tarifas”, declarou o porta-voz Liu Pengyu.
Enquanto isso, Trump concordou em suspender temporariamente a tarifa de 25% sobre importados canadenses e mexicanos, após conversas com os líderes do Canadá e do México. O governo mexicano anunciou o envio de dez mil soldados da Guarda Nacional para a fronteira norte, com o objetivo de reforçar o combate ao tráfico de drogas. No Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau afirmou que dez mil agentes reforçarão o controle fronteiriço, com apoio de um investimento de US$ 1,3 bilhão em tecnologia e segurança.