Pesquisa aponta queda de sete pontos na aprovação do presidente na região, gerando alerta no Planalto
A queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrada em janeiro acendeu um alerta no Palácio do Planalto, especialmente devido à piora da avaliação no Nordeste. A região, considerada um bastião petista desde 2006, teve a maior queda percentual na aprovação de Lula, recuando de 67% para 60%, segundo pesquisa do Instituto Quaest.
A preocupação do governo se justifica: em 2022, Lula venceu Jair Bolsonaro (PL) no Nordeste com 69,3% dos votos válidos, uma diferença de 12,5 milhões de votos que foi determinante para sua vitória nacional apertada. Agora, o receio é que a base de apoio na região esteja enfraquecendo.
Especialistas e eleitores apontam a perda de poder de compra como o principal motivo da insatisfação com o governo. O aumento da inflação, especialmente nos alimentos, e a alta de impostos têm impactado diretamente a vida da população nordestina.
A chamada “taxa das blusinhas”, que começou a tributar compras internacionais de pequeno valor, e a polêmica sobre o monitoramento do Pix foram dois dos temas que mais geraram críticas. Além disso, o desemprego ainda elevado no Nordeste (8,7% no terceiro trimestre de 2024, acima da média nacional de 6,4%) tem feito com que trabalhadores informais e pequenos empreendedores se sintam desamparados.
A cientista política Monalisa Torres, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), destaca que muitos nordestinos votaram em Lula pela memória de um período de crescimento econômico nos seus primeiros governos. No entanto, agora há uma frustração com a dificuldade de repetir esses resultados.
“O governo prometeu muito, mas enfrenta desafios como o Congresso mais independente e um orçamento mais engessado. Isso impacta a capacidade de entregar políticas públicas que façam diferença na vida do eleitor”, analisa.
A polêmica envolvendo o Pix, amplamente explorada por políticos da oposição, também teria desgastado a imagem do governo. Lideranças bolsonaristas espalharam a informação falsa de que o governo pretendia taxar transações pelo sistema de pagamento. A reação negativa foi tão intensa que a Receita Federal recuou na ampliação da fiscalização.
Diante da queda na popularidade, o governo tem tentado melhorar sua estratégia de comunicação. O publicitário Sidônio Palmeira assumiu a Secretaria de Comunicação Social (Secom), e a equipe passou a adotar uma linguagem mais popular e interativa nas redes sociais.
Uma das ações foi a campanha do boné azul com a frase “O Brasil é dos brasileiros”, uma resposta aos bonés vermelhos com o slogan “Make America Great Again” usados por bolsonaristas alinhados a Donald Trump. A oposição reagiu rapidamente, promovendo o boné “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026” e levantando peças de picanha e pacotes de café no Congresso.
Marcos Farias, 21 anos, morador de Camalaú, na Paraíba, votou em Lula em 2022, mas agora está decepcionado. “Nunca um governo cobrou tanto imposto”, reclama. Ele era um comprador frequente de produtos da China, mas reduziu drasticamente as compras após a taxação.
Já o advogado Yago Pereira da Silva, de São Lourenço da Mata (PE), critica a alta da inflação. “O café subiu muito, arroz e feijão também”, lamenta. Apesar da insatisfação, ele afirma que esperará os próximos anos do governo para decidir seu voto em 2026.
Mesmo com as dificuldades, especialistas apontam que Lula ainda mantém vantagem sobre Bolsonaro entre eleitores nordestinos, mas precisa agir rapidamente para evitar mais desgaste. Investimentos na região, controle da inflação e uma comunicação mais eficiente serão fundamentais para reconquistar a confiança do eleitorado.