Uma antiga fake news voltou a circular recentemente, alegando, sem qualquer embasamento científico, que a presença de metais pesados em vacinas infantis estaria relacionada ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Além de ser uma informação falsa, essa desinformação reforça estereótipos prejudiciais e busca desacreditar a eficácia e segurança das vacinas.
O boato afirma que o autismo estaria ligado a substâncias como chumbo, alumínio, mercúrio e arsênio, presentes no meio ambiente e, supostamente, nas vacinas obrigatórias para crianças. Há ainda alegações infundadas de que as 72 vacinas do calendário infantil são inseguras.
No entanto, essa teoria foi desmentida por diversos estudos científicos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já confirmou que não existe qualquer relação entre vacinas e o TEA.
O TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta a forma como o indivíduo se comunica e interage com o mundo. Segundo a OMS, cerca de uma em cada 100 crianças no mundo apresenta o transtorno, que pode se manifestar em diferentes graus e variações. Os primeiros sinais aparecem nos primeiros meses de vida, com diagnóstico geralmente fechado entre os dois e três anos de idade.
A ciência já comprovou que o autismo tem origem genética, com mais de 100 genes identificados como possíveis causadores do transtorno. Um estudo recente publicado na revista Cell analisou mais de 20 mil genomas e identificou 134 genes associados ao TEA.
Uma análise publicada na revista científica Vaccines em 2014 revisou estudos com mais de um milhão de crianças e concluiu que não há qualquer ligação entre vacinas e TEA. O Comitê Consultivo Global da OMS sobre Segurança de Vacinas também confirmou que não há evidências de que a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) esteja associada ao desenvolvimento do autismo.
A origem dessa fake news remonta a 1998, quando o médico britânico Andrew Wakefield publicou um estudo fraudulento alegando haver relação entre a vacina tríplice viral e o autismo. Posteriormente, descobriu-se que ele utilizou dados falsificados e violou princípios básicos da pesquisa científica. O caso foi investigado pelo jornalista Brian Deer, que expôs as fraudes na imprensa em 2004.
Como resultado, Wakefield teve seu registro profissional cassado no Reino Unido em 2010, e a revista The Lancet, onde o estudo havia sido publicado, retratou-se e retirou a pesquisa de circulação.
Infelizmente, mesmo após a comprovação da fraude, a teoria ganhou força entre grupos antivacina, resultando na queda da cobertura vacinal e no retorno de doenças erradicadas em alguns países.
Vacinas são uma das formas mais seguras e eficazes de prevenir doenças. Elas são desenvolvidas após anos de estudos rigorosos e passam por testes minuciosos antes de serem disponibilizadas à população.
A vacina contra o sarampo, por exemplo, evitou mais de 23 milhões de mortes entre 2000 e 2018 no mundo. Já imunizantes contra rubéola, tétano e poliomielite ajudaram a erradicar essas doenças em diversos países.
A pandemia da Covid-19 demonstrou, mais uma vez, a importância da vacinação. No Brasil, mais de 700 mil vidas foram perdidas para a doença, mas o fim da emergência sanitária só foi possível graças à vacinação em massa.
O governo reforça que as vacinas oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são gratuitas, seguras e essenciais para proteger a saúde de crianças e adultos.