Na madrugada de 2 de fevereiro de 1912, Alagoas foi palco de um dos episódios mais marcantes de intolerância religiosa da história do Brasil: o Quebra de Xangô. Durante aquela noite, diversos terreiros de Candomblé foram invadidos e destruídos em Maceió, resultado da perseguição contra as religiões de matriz africana, que já vinham sendo alvo de ataques devido à desinformação e ao preconceito.
Mãe Mirian, zeladora de santo e Patrimônio Vivo do Estado desde 2021, reforça a importância de lembrar e valorizar essa história. Aos 90 anos, ela recorda os tempos difíceis que os praticantes do Candomblé enfrentaram em Alagoas, especialmente nas décadas seguintes ao Quebra de Xangô. “Batiam na gente, mandavam prender, a polícia invadia nossos terreiros. Era um terror, uma humilhação. E eu estou falando de menos de 30 anos atrás”, relata.
A repressão forçou mudanças nos rituais, levando à prática do chamado "Xangô Rezado Baixo", um culto silencioso para evitar chamar a atenção. Até hoje, segundo Mãe Mirian, muitas pessoas enfrentam preconceito apenas por vestirem roupas de axé.
Para Alan Cerqueira, estudante de História e abian (filho de santo) do Axé Pratagy, o dia 2 de fevereiro representa um momento de resistência e reafirmação da fé afro-brasileira. “Além de clamar por respeito às nossas raízes, é um momento de reconhecer a importância dessas religiões para a cultura e a sociedade brasileira”, destaca.
Ações do Governo
O Governo de Alagoas tem investido em políticas de valorização da cultura afro-brasileira e combate à intolerância religiosa. Entre as ações destacam-se a criação da Delegacia Tia Marcelina, especializada no acolhimento e investigação de crimes religiosos, e campanhas de conscientização sobre o respeito às tradições de matriz africana.
O governador Paulo Dantas reforça que não há espaço para intolerância. “Vivemos um momento em que devemos respeitar uns aos outros. Existem leis, políticas públicas e punições para aqueles que praticam discriminação religiosa”, afirmou.
Em 2012, o Governo de Alagoas fez um pedido oficial de perdão pelo Quebra de Xangô. Desde então, diversas iniciativas vêm sendo fortalecidas para garantir que episódios como esse nunca mais se repitam.