Neste sábado (1º), o Senado e a Câmara dos Deputados elegeram Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) como seus novos presidentes. Ambos eram os favoritos na disputa e representam o Centrão, grupo político que transita entre governos de diferentes espectros em troca de cargos e verbas públicas.
A eleição ocorre em um momento crucial para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta queda de popularidade e dificuldades para aprovar sua agenda no Legislativo. Segundo analistas, o novo comando do Congresso deve manter a autonomia e a força do Parlamento, exigindo do Planalto mais negociações para avançar em projetos estratégicos.
A principal expectativa é que pautas econômicas, como mudanças no Imposto de Renda, possam ser aprovadas, embora com intensa negociação e concessões. Por outro lado, temas mais controversos, como a regulamentação das redes sociais, devem continuar travados.
Davi Alcolumbre, que retorna à presidência do Senado após quatro anos, tem um perfil mais confrontacional que o antecessor Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e pode dificultar o diálogo com o governo. Ele já demonstrou um forte apetite por cargos e verbas, o que pode gerar pressões constantes sobre o Palácio do Planalto.
Já Hugo Motta, eleito presidente da Câmara com 444 votos, deve manter um diálogo mais aberto com o governo, especialmente quando comparado a Arthur Lira (PP-AL). No entanto, isso não significa facilitação nas votações, já que ele também defende a autonomia do Congresso e a continuidade dos altos valores destinados às emendas parlamentares.
Um dos principais temas que devem dominar as negociações entre Executivo e Legislativo é o controle das emendas parlamentares. Nos últimos anos, essas verbas superaram R$ 40 bilhões, reduzindo o poder de barganha do governo federal sobre o Congresso.
Alcolumbre e Motta são defensores da ampliação desses recursos, o que pode gerar disputas com o governo e o Supremo Tribunal Federal (STF). Atualmente, uma ação no STF questiona os critérios de distribuição das emendas e cobra mais transparência nos gastos, o que já resultou no bloqueio de repasses pelo ministro Flávio Dino, despertando forte insatisfação no Legislativo.
A eleição da nova liderança do Congresso acontece em um momento delicado para Lula. Segundo a pesquisa Quaest, divulgada no final de janeiro, a desaprovação do presidente chegou a 49%, superando a aprovação (47%) pela primeira vez. No Nordeste, reduto eleitoral petista, a aprovação caiu de 67% para 60%.
O presidente também enfrenta questionamentos sobre a viabilidade de sua reeleição em 2026. Durante um evento com investidores, Gilberto Kassab (PSD) afirmou que, se as eleições fossem hoje, Lula perderia. O ex-ministro também criticou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamando-o de "fraco" dentro do governo.
Lula rebateu as declarações de Kassab e defendeu o trabalho de Haddad, destacando a aprovação da reforma tributária e do novo arcabouço fiscal no Congresso. O presidente minimizou as projeções eleitorais, afirmando que a disputa presidencial ainda está distante.
O ex-presidente Jair Bolsonaro também acompanhou de perto a eleição do Congresso e adotou uma postura mais pragmática. Diferente de 2023, quando o PL lançou Rogério Marinho contra Pacheco no Senado e saiu enfraquecido, desta vez, Bolsonaro apoiou Alcolumbre, garantindo espaço para o partido na mesa diretora e comissões importantes.
A estratégia tem um objetivo claro: tentar aprovar uma anistia para investigados pelo 8 de Janeiro, o que poderia beneficiar Bolsonaro, indiciado pela Polícia Federal como mentor de um suposto plano golpista. No entanto, a proposta enfrenta forte resistência do governo e do STF.
A vitória de Alcolumbre e Motta reflete a força do Centrão, que segue ditando o ritmo do Congresso. Enquanto a Câmara pode manter um tom menos conflituoso, o Senado deve adotar uma postura mais independente e barganhadora.
Lula precisará investir ainda mais na articulação política para avançar com sua agenda legislativa, especialmente em um contexto de queda de popularidade e resistência no Parlamento. A formação do novo Congresso deixa claro que o Planalto terá que lidar com um jogo político intenso nos próximos anos.