O Rio Mundaú, em União dos Palmares, precisa urgentemente de uma barragem para armazenar água durante os períodos de estiagem. O governo estadual chegou a autorizar a obra, mas, segundo a imprensa, os recursos foram devolvidos, pois o prefeito teria se recusado a utilizá-los. A população enfrenta constantes dificuldades, como temperaturas elevadas, tarifas de água e esgoto entre as mais caras do estado e frequentes interrupções no abastecimento. Esse é o cenário que os moradores de União dos Palmares enfrentam atualmente.
Com a chegada do verão, surge a dúvida: a empresa Verde realmente construirá a barragem no Rio Mundaú em União dos Palmares?
Os ribeirinhos da bacia dos rios Canhoto e Mundaú passaram por um inverno chuvoso, mas sem grandes danos, exceto por uma breve ameaça de transbordamento de dois dias. Nenhum afluente desses rios principais chegou a extravasar, interditar estradas ou invadir casas.
Apesar desse equilíbrio momentâneo com a natureza, falhas no abastecimento de água são frequentes, especialmente em São José da Laje, onde o SAAE continua responsável pela captação, tratamento e distribuição de água. Em União dos Palmares, esses serviços estão sob a administração da empresa mineira "Verde", que venceu uma licitação pública bastante debatida e assumiu a gestão por 30 anos.
O problema persiste há décadas. O SAAE de União dos Palmares foi projetado para atender 25 mil habitantes distribuídos em cerca de 18 mil residências. No passado, a água era captada por gravidade da Serra dos Frios, o que ajudava a reduzir os custos. Com o crescimento populacional, essa captação se tornou insuficiente, e a alternativa encontrada foi retirar água do poluído Rio Mundaú, que é alimentado pelos rios Canhoto, Mirim, Guanabara, Seco e Sueca, na região entre Santana do Mundaú, São José da Laje e União dos Palmares.
Como ocorre em todo o Nordeste, essa região do leste de Alagoas tem apenas duas estações do ano bem definidas: um inverno chuvoso, de março a setembro, e um verão seco, de outubro a março. Esse ciclo influencia diretamente a disponibilidade de água, alternando entre abundância e escassez extrema.
A irregularidade na oferta desse serviço essencial faz com que a população dependa das condições climáticas. Apesar da necessidade urgente de uma solução definitiva, nenhuma grande obra foi concretizada para resolver o problema. A construção de uma barragem foi cogitada, mas nunca saiu do papel.
Em 2014, o governo federal contratou uma empresa para iniciar o projeto na Fazenda Barra do Caruru, a 5 km de Rocha Cavalcante e 17 km do centro de União dos Palmares. No entanto, as obras nem sequer começaram. Em 2017, o então governador Renan Filho autorizou a construção da barragem, desta vez na Fazenda Serra da Laje, próxima à estação de captação da Verde no Bairro Várzea Grande.
Na época, a manchete era promissora: “Governo do Estado garante retomada da barragem de nível no Rio Mundaú”. Contudo, em 27 de novembro de 2017, a população foi surpreendida com outra notícia desanimadora: “União dos Palmares perdeu quase R$ 300 mil destinados à construção da barragem”. O diretor do SAAE justificou que o recurso foi devolvido ao governo estadual por falta de uso.
Ainda em 2017, a imprensa destacou de forma irônica: “Sem chuva em União dos Palmares, Rio Mundaú pode secar em até sete dias”.
Hoje, a realidade continua a mesma. Os noticiários alertam para uma forte onda de calor devido ao fenômeno El Niño.
Diante disso, fica a dúvida: mesmo pagando as taxas mais altas de religação, consumo e esgoto em Alagoas – e talvez em todo o interior do Nordeste –, os mineiros darão uma resposta concreta? Quem assumirá a construção da barragem? Será que a empresa Verde está disposta a arcar com esses custos?
Matperia Puiblicada 26/09/2023