O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia hoje sua primeira reunião sob a liderança de Gabriel Galípolo, novo presidente da instituição. Analistas afirmam que, apesar da mudança na gestão, o colegiado deve manter a postura de combate à inflação, o que inclui a elevação da taxa básica de juros, a Selic, de 12,25% para 13,25% ao ano.
Embora sete dos nove diretores do Banco Central tenham sido indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Galípolo enfrentará um cenário econômico desafiador. Entre os principais obstáculos estão a inflação persistente, que pode ultrapassar 6% em 2025, e a desconfiança do mercado quanto ao compromisso do governo com um ajuste fiscal robusto.
As incertezas externas, como o impacto da possível retomada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e suas ameaças de tarifas sobre importações, adicionam pressão ao cenário inflacionário global e nacional.
A elevação da Selic já era esperada, seguindo o tom hawkish (postura dura no combate à inflação) adotado na última reunião, quando o Copom acelerou o aumento dos juros. A taxa passou de 11,25% para 12,25%, e os economistas projetam que pode alcançar 14,25% até março e até 15,50% no fim de 2025.
"Com o IPCA em alta e o dólar acima de R$ 5,90 em muitos cenários projetados, o Banco Central terá que continuar subindo a Selic para tentar conter o custo de vida", afirma o economista Eduardo Velho, da Equador Investimentos.
A inflação segue como o maior desafio para a política monetária. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) superou as expectativas do mercado na prévia de janeiro, subindo 0,11%, quando era esperada uma queda. Além disso, o mercado elevou a previsão para a inflação deste ano para 6,1%, acima do teto da meta do Banco Central, de 4,5%.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, alerta que, mesmo com ajustes fiscais moderados, será difícil ancorar as expectativas inflacionárias no curto prazo. "O Copom já está comprometido com mais altas nos juros, mas ainda há muita incerteza sobre os próximos passos", afirma.
Na chamada "Super Quarta", a decisão sobre os juros brasileiros coincidirá com a reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Enquanto o mercado não espera alterações na taxa de juros norte-americana, o aperto monetário no Brasil deve continuar como forma de conter as pressões inflacionárias.
"Embora o Copom mantenha uma postura dura, o cenário global adiciona riscos. O retorno de Trump, com possíveis tarifas comerciais, pode gerar novas ondas inflacionárias. Além disso, a economia brasileira, apesar de alguns sinais de desaceleração, ainda demonstra resiliência em setores como o agronegócio, o que pode dar espaço para o BC sustentar juros mais elevados por mais tempo", avalia Rafael Cardoso, economista-chefe do banco Daycoval.
Segundo Juliana Inhasz, economista do Insper, o mandato de Galípolo à frente do Banco Central será marcado pela necessidade de equilibrar pressões inflacionárias crescentes e as expectativas do governo federal por uma política monetária menos restritiva. "Ele terá que mostrar firmeza no combate à inflação, o que provavelmente incluirá seguir o alinhamento com a gestão anterior", comenta.
O cenário econômico aponta para mais aumentos na taxa Selic como ferramenta para conter a inflação. No entanto, analistas ressaltam que o novo presidente do Banco Central enfrentará desafios complexos, como ancorar as expectativas de mercado e lidar com as incertezas fiscais e externas. O comunicado do Copom na próxima quarta-feira será crucial para dar o tom da gestão de Galípolo nos próximos meses.