Uma pesquisa da Universidade College London (UCL), no Reino Unido, revelou que adultos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) têm uma expectativa de vida reduzida em até 11 anos, especialmente entre mulheres. O estudo, publicado na revista The British Journal of Psychiatry, analisou dados de mais de 330 mil pessoas, sendo 30 mil diagnosticadas com TDAH, e encontrou diferenças significativas na mortalidade em comparação a indivíduos sem o transtorno.
A pesquisa sugere que a redução na expectativa de vida não está diretamente ligada ao TDAH em si, mas à falta de suporte médico e psicológico. Apenas um terço dos pacientes no Reino Unido recebe tratamento adequado, como medicamentos ou acompanhamento profissional, enquanto muitos relatam dificuldades em acessar serviços de saúde mental.
Entre os diagnosticados, 8% afirmaram que buscaram ajuda sem sucesso, taxa muito superior à registrada entre indivíduos sem TDAH. Essa lacuna no atendimento pode agravar os problemas associados à condição, como transtornos de humor, ansiedade e até tendências suicidas.
O TDAH, caracterizado por sintomas como desatenção, hiperatividade e impulsividade, tem bases genéticas e neurobiológicas. Quando não tratado, pode impactar negativamente áreas essenciais da vida, como trabalho, estudos, relacionamentos e saúde mental, conforme explica o neurologista Mauro Muzkat, da Unifesp. “Isso gera baixa autoestima e pode desencadear transtornos como depressão e ansiedade, além de agravar condições preexistentes, como bipolaridade e borderline”, destaca.
A neurocientista Wanessa Moreira, da Unesp, reforça que a falta de tratamento pode levar a consequências extremas, como suicídio, em função da impulsividade e do excesso de substâncias químicas relacionadas ao estresse, como dopamina e cortisol.
O estudo aponta que mulheres com TDAH têm uma redução maior na expectativa de vida, variando de 6,5 a 11 anos, enquanto para homens a redução é de 4,5 a 9 anos. Segundo os autores, isso pode estar relacionado a diferenças na forma como o transtorno é diagnosticado e tratado entre os gêneros.
Josh Stott, da UCL, destacou que, embora o TDAH possa trazer desafios, também há pontos fortes quando os pacientes recebem suporte adequado. “Com tratamento, eles podem prosperar. Mas a exclusão social e os eventos estressantes tornam-se fatores de risco significativos sem o suporte necessário.”
A pesquisa concluiu que o tratamento adequado está associado a melhores prognósticos, como menor incidência de problemas de saúde mental e uso de substâncias, condições frequentemente associadas ao TDAH. A neurocientista Liz O'Nions enfatizou a necessidade de mais estudos para compreender as razões da mortalidade precoce e desenvolver estratégias para preveni-la.
“É fundamental garantir acesso a suporte e tratamento para pacientes com TDAH. Isso pode transformar a vida deles, reduzindo riscos e promovendo uma qualidade de vida melhor”, concluiu Liz.