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Violência
24/01/2025 00:00:00

Brasil registra 105 mortes de pessoas trans em 2024, mantendo liderança no ranking global há 17 anos

Brasil registra 105 mortes de pessoas trans em 2024, mantendo liderança no ranking global há 17 anos

No ano de 2024, o Brasil contabilizou 105 assassinatos de pessoas trans, permanecendo, pelo 17º ano consecutivo, como o país que mais comete esses crimes no mundo. Apesar de o número representar uma redução de 14 casos em comparação a 2023, os dados, apresentados no Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024 pela Rede Trans Brasil, evidenciam a contínua vulnerabilidade dessa população.

O levantamento, que será oficialmente divulgado em 29 de janeiro, reúne informações obtidas por meio de redes sociais, internet e veículos de comunicação, abrangendo episódios registrados ao longo do ano. Segundo o relatório, a maior parte dos assassinatos ocorreu na Região Nordeste, responsável por 38% dos casos, seguida pelo Sudeste (33%), Centro-Oeste (12,6%), Norte (9,7%) e Sul (4,9%).

Entre os estados, São Paulo liderou com 17 assassinatos, seguido por Minas Gerais (10) e Ceará (9). A maioria das vítimas eram mulheres trans ou travestis (93,3%), e a faixa etária predominante foi de 26 a 35 anos. Além disso, 36,5% eram pessoas pardas, e 26%, pretas, sendo que muitas trabalhavam como profissionais do sexo.

Violência persistente e perfil das vítimas

O dossiê destaca a violência estrutural enfrentada pela população trans no Brasil. Em 66% dos casos, as investigações ainda estavam em andamento, e apenas 34% tiveram um suspeito preso. Muitos crimes foram cometidos por parceiros ou ex-parceiros, clientes ou relacionados a dívidas e organizações criminosas. A maioria das mortes ocorreu por armas de fogo ou facadas, em vias públicas ou nas residências das vítimas.

A secretária adjunta de Comunicação da Rede Trans Brasil, Isabella Santorinne, ressaltou a necessidade de políticas públicas voltadas à proteção dessa população. “Faltam iniciativas eficazes para enfrentar o cenário de exclusão e violência. Educação inclusiva, empregabilidade, acesso à saúde e segurança, além de uma investigação rigorosa de crimes transfóbicos, são medidas urgentes para garantir a dignidade e sobrevivência das pessoas trans no Brasil”, afirmou.

Contexto global e contradições no Brasil

Em nível global, foram registrados 350 assassinatos de pessoas trans em 2024, sendo 255 na América Latina e Caribe. O Brasil liderou com 106 mortes, seguido por México (71) e Colômbia (25). A alta taxa de violência contrasta com o consumo de pornografia trans no país, como ressaltado por Santorinne: “O Brasil é o país que mais consome pornografia trans, mas também o que mais nos mata. Isso demonstra um ciclo contraditório de desejo e ódio em relação aos nossos corpos.”

Avanços e desafios

O relatório também analisou o respeito ao nome social das vítimas nos registros midiáticos, com 93,3% dos casos sendo tratados de forma correta, enquanto 6,7% ainda utilizaram o "nome morto". Santorinne destacou que, embora haja sinais de progresso em debates públicos e maior visibilidade, a violência contra pessoas trans ainda é alarmante e exige ações mais contundentes.

O dossiê, além de dar visibilidade à gravidade do problema, busca subsidiar a formulação de políticas públicas que promovam a proteção e inclusão dessa população.



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