Mesmo após registrar mais de 800 mil baixas, entre mortos e feridos, nos três primeiros anos da guerra contra a Ucrânia, o exército russo continua a manter cerca de 600 mil soldados na linha de frente. No entanto, relatos crescentes indicam que Moscou está enviando combatentes feridos de volta ao campo de batalha, incluindo soldados que ainda utilizam muletas. A estratégia, vista como um esforço desesperado, evidencia o impacto devastador da guerra sobre as forças russas.
De acordo com a Forbes, o 20º Exército de Armas Combinadas (EAC) tem formado grupos de assalto compostos majoritariamente por soldados feridos, que são enviados para missões com resultados frequentemente trágicos. Imagens de drones ucranianos capturaram cenas desses batalhões em ação na região de Pokrovsk, onde a maioria dos combatentes foi rapidamente eliminada, demonstrando sua limitada capacidade ofensiva.
O fenômeno, apelidado de "batalhões de muletas", reflete uma crise no sistema de recrutamento e de logística militar russo. A escassez de equipamentos e as perdas significativas — cerca de 15 mil veículos de combate desde o início do conflito — têm forçado os comandantes a priorizarem ofensivas de infantaria, utilizando soldados a pé como alternativa mais difícil de ser detectada pelas forças ucranianas. No entanto, isso não tem sido suficiente para reverter a deterioração do desempenho militar russo.
Custos humanos devastadores
Em 2024, a Rússia registrou 434 mil baixas, incluindo 150 mil mortes, um número superior à soma dos dois anos anteriores do conflito. Já a Ucrânia, segundo dados apresentados pelo presidente Volodymyr Zelensky, contabilizou 43 mil mortos e 370 mil feridos desde o início da guerra. A reutilização de soldados feridos e a preferência por táticas de infantaria evidenciam a dificuldade da Rússia em sustentar sua força militar no longo prazo.
Tempestade-Z e negligência com soldados
A reutilização de combatentes feridos não é uma prática recente. Em dezembro de 2023, o Ministério da Defesa do Reino Unido denunciou que soldados das unidades Tempestade-Z eram forçados a lutar mesmo com ferimentos graves ou após amputações. Esses destacamentos são compostos por militares considerados de segunda linha, incluindo ex-presos e soldados indisciplinados, que frequentemente enfrentam condições precárias.
Relatos indicam que combatentes dessas unidades, além de não receberem tratamento médico adequado, muitas vezes são enviados para missões sem munição, alimentos ou água. As famílias dos soldados também têm denunciado atrasos ou ausência total dos pagamentos prometidos.
Impacto estratégico
A estratégia de enviar soldados feridos de volta ao front destaca a pressão enfrentada pelo Kremlin para manter sua ofensiva. Embora a Rússia conte com uma vasta mão de obra, a reutilização de combatentes incapacitados sugere que a renovação desse recurso está cada vez mais difícil. Ao mesmo tempo, o uso de tropas em condições tão debilitadas levanta questões sobre a eficácia da campanha militar russa e sobre os limites da resiliência das forças armadas do país.