Nesta quarta-feira (22), o dólar apresentou forte queda, sendo negociado abaixo do patamar psicológico de R$ 6. Às 13h03, a moeda norte-americana recuava 1,48%, cotada a R$ 5,941, menor valor registrado desde novembro do ano passado. A redução ocorre em meio a incertezas sobre a política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e à expectativa por medidas fiscais no Brasil.
Contexto Internacional
A recente posse de Trump reacendeu preocupações no mercado global devido às promessas de tarifas de importação sobre produtos de economias como União Europeia, China, Canadá e México. Embora a retórica protecionista tenha dominado a campanha do republicano, os mercados ainda avaliam se as ameaças se traduzirão em ações concretas.
A imposição de tarifas pode elevar os custos comerciais, desencadear retaliações e gerar pressões inflacionárias nos Estados Unidos, dificultando o controle da inflação pelo Federal Reserve (Fed). Até agora, Trump limitou-se a ordenar investigações sobre déficits comerciais e práticas consideradas "injustas", sem apresentar medidas definitivas.
Essa postura tem enfraquecido o dólar globalmente. Conforme o analista Leonel Mattos, da StoneX, "a abordagem inicial do governo Trump tem levado a um movimento de enfraquecimento global do dólar".
Repercussões no Brasil
No mercado doméstico, o desempenho do real também foi impulsionado pela taxa Selic elevada, atualmente em 12,25% ao ano, com expectativa de atingir 14,25% até março, segundo o Banco Central. Altas taxas de juros tornam o real atraente para investidores estrangeiros que buscam lucros com operações de "carry trade".
Apesar do otimismo com a queda do dólar, analistas alertam que o cenário fiscal brasileiro continua sendo um ponto crítico. O governo Lula enfrenta desafios para equilibrar as contas públicas, especialmente após a aprovação de um pacote de contenção de gastos em dezembro de 2024, que foi parcialmente desidratado durante a tramitação no Congresso.
Perspectivas Fiscais
O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o governo está avaliando a necessidade de novas medidas fiscais para cumprir as metas de 2025. A estimativa inicial era economizar R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026, mas o impacto foi reduzido para cerca de R$ 50 bilhões após alterações no pacote.
Impactos no Mercado
Além da queda do dólar, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, registrava uma leve retração de 0,11%, aos 123.201 pontos. No cenário internacional, moedas como o peso mexicano e o chileno também mostram recuperação frente ao dólar.
Embora o real esteja se valorizando momentaneamente, economistas destacam que a volatilidade deve permanecer alta nos próximos meses, influenciada tanto pelas decisões de política monetária nos Estados Unidos quanto pelo andamento da agenda fiscal no Brasil.
Conforme o economista André Perfeito, "o mercado está considerando seriamente os R$ 6 como um ponto de equilíbrio, mas a sustentabilidade dessa apreciação depende de um cenário fiscal mais claro e de ajustes contínuos".