A história de Thiago Santos, doutor em Educação e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), exemplifica o poder transformador da educação. Criado em uma favela em Abreu e Lima, Pernambuco, Thiago encontrou inspiração para seguir a carreira docente na casa de sua tia Sandra, a única da família com emprego fixo como professora. "Quero ser professor para que todos possam ter banheiro em suas casas e muito mais", declara Thiago, agora aos 31 anos.
Hoje, como pesquisador do laboratório de políticas públicas e educação na UFPE, ele forma novos professores e analisa os desafios da docência no Brasil. Apesar de sua trajetória de superação, Thiago lamenta a desvalorização da carreira, que faz muitos estudantes e profissionais abandonarem a profissão. Nesse cenário, ele acredita que o programa federal Mais Professores, anunciado recentemente, pode reacender esperanças para a docência e para o impacto transformador da educação.
O Mais Professores propõe medidas para atrair e valorizar profissionais da educação, como a criação da Prova Nacional Docente (PND) e o programa Pé-de-Meia Licenciaturas, que oferece bolsas de R$ 1.050 mensais para estudantes de licenciatura com bom desempenho no Enem. "Essa iniciativa pode atrair mais pessoas para a docência e garantir a formação de professores desde o início até o final do curso", avalia Thiago.
O governo federal também destacou que o programa visa melhorar a formação docente, reforçar parcerias com universidades e fortalecer a relação entre os entes federativos para promover a educação.
Apesar das propostas positivas, Thiago alerta para os desafios que ainda precisam ser enfrentados. Entre eles, estão a desvalorização salarial, a falta de planos de carreira e o desrespeito ao piso nacional do magistério. Ele também critica a prioridade dada a gastos com festas e eventos em detrimento da valorização dos profissionais da educação. "A carreira docente no Brasil não é atrativa porque não há valorização suficiente. Muitos estudantes enxergam a profissão como sinônimo de cansaço e baixa qualidade de vida", explica.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) também apontou desafios, como a necessidade de liberar docentes para cursos de formação continuada e garantir a adesão dos entes federativos ao programa. A CNTE propôs que repasses federais sejam condicionados à valorização do piso salarial e dos planos de carreira.
Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicam que o investimento per capita na educação básica no Brasil é um dos mais baixos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em 2023, o investimento por aluno foi de R$ 17,7 mil anuais, muito inferior aos valores de países como Luxemburgo e Suíça. Além disso, 54% dos docentes das redes estaduais trabalham em condições precárias, sem estabilidade ou acesso ao piso do magistério.
Para Thiago, a docência vai além do ensino: é uma ferramenta de transformação social. Inspirado pela mãe, que voltou a estudar para ajudá-lo com as lições de casa, e pela tia Sandra, Thiago acredita no impacto da educação em comunidades marginalizadas. "Ser professor me permite fazer a diferença. A escola e os professores têm o poder de transformar vidas", afirma.
Apesar dos desafios, ele mantém a esperança de que programas como o Mais Professores e o fortalecimento da educação pública possam criar um futuro mais digno para todos. "Educação é a chave para mudar o país", conclui.