Condenado à morte por uma comissão militar autorizada pelo imperador d. Pedro I (1798-1834), o padre, jornalista, escritor e militante político Joaquim da Silva Rabelo, mais conhecido como Frei Caneca, foi executado diante do Forte das Cinco Pontas, em Recife, no dia 13 de janeiro de 1825. Sua sentença, descrita por ele como fruto de um "assassino tribunal", havia sido proferida em 20 de dezembro de 1824.
Republicano e federalista, Frei Caneca foi uma das principais figuras da Revolução Pernambucana de 1817 e mentor da Confederação do Equador, movimento separatista que buscava criar um Estado independente no Nordeste, deflagrado em 1824. Sua condenação e a de outros 30 confederados baseou-se nos crimes de sedição e rebelião contra o governo imperial.
Para reprimir a Confederação do Equador, d. Pedro I suspendeu as garantias constitucionais, permitindo à comissão militar julgar de forma verbal e sumária os líderes do movimento. O historiador George Cabral, da Universidade Federal de Pernambuco, afirma que o imperador tinha pressa em eliminar os cabeças da rebelião, com sentenças que pareciam já estar decididas antes mesmo do julgamento.
Previsto para ser enforcado, Frei Caneca foi despojado de suas vestes religiosas, um ato que simbolizava sua exclusão do status de padre. Contudo, três carrascos recusaram-se a realizar o enforcamento, levando a comissão a ordenar sua execução por fuzilamento. Na época, havia um entendimento popular de que "não se matava padre", já que eram considerados enviados de Deus.
Frei Caneca tornou-se um ícone revolucionário, frequentemente chamado de "Tiradentes do Nordeste". Sua imagem foi idealizada e amplificada em momentos de afirmação política no século 19, especialmente em Pernambuco. O historiador Paulo Henrique Martinez observa que sua biografia e atuação política foram resgatadas como inspiração para movimentos posteriores.
Frei Caneca incomodava o governo imperial não apenas por sua participação em revoltas, mas também por seus sermões e artigos publicados no jornal Typhis Pernambucano, nos quais defendia maior participação popular e autonomia regional. Seus textos repercutiram em várias partes do Brasil, incluindo a corte no Rio de Janeiro, aumentando a aversão do imperador a ele.
Filho de um tanoeiro, Frei Caneca ingressou na ordem carmelita aos 17 anos, onde obteve acesso à educação formal, destacando-se em retórica, filosofia e geometria. Influenciado pela Revolução Francesa e pela independência dos Estados Unidos, adotou ideais liberais e republicanos, tendo como modelo o federalismo norte-americano.
Em 1817, Frei Caneca participou ativamente da Revolução Pernambucana, que buscava criar uma república independente na região. Após a derrota do movimento, foi preso e enviado a Salvador, onde passou quatro anos detido. Durante o cárcere, escreveu uma gramática da língua portuguesa.
Mais tarde, em 1824, tornou-se uma das principais lideranças da Confederação do Equador. O movimento, que almejava um Estado autônomo no Nordeste, não conseguiu adesão significativa além de Pernambuco, sendo violentamente reprimido pelo governo imperial.
A repressão à Confederação do Equador foi uma das mais severas do período imperial, com tropas mercenárias contratadas para combater os rebeldes. Frei Caneca e outros líderes foram julgados rapidamente e executados, sem a possibilidade de defender suas ideias ou o movimento do qual participaram.
Frei Caneca é lembrado como um símbolo de luta pela autonomia e liberdade. Sua atuação política e intelectual, combinando pensamento revolucionário e prática militante, continua a ser referência em estudos históricos sobre o período de formação do Brasil independente. Sua morte, marcada por simbolismo e injustiça, reforça sua posição como mártir da causa republicana no país.