A Associação Chinesa de Carnes (CMA) enviou à Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (ABIEC) um pedido para o envio de um carregamento piloto de carne livre de desmatamento e conversão. O documento também propõe a criação de um mecanismo de diálogo permanente para tratar questões comerciais e a promoção de um sistema de rastreabilidade individual de animais, condição indispensável para atender critérios sanitários e liberar o mercado de miúdos bovinos na China, um segmento de alto valor agregado para o Brasil.
A CMA tem trabalhado junto a autoridades chinesas para facilitar a importação de miúdos bovinos, exigindo a rastreabilidade completa dos animais. Essa medida é crucial para atender às rigorosas exigências sanitárias do mercado chinês. O governo brasileiro deu um passo significativo ao lançar o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos, que permitirá rastrear animais do nascimento ao abate. Apesar disso, o plano prevê implementação em sete anos, o que exige ações antecipadas de estados e produtores que desejam aproveitar a demanda chinesa, como já faz o Pará com seu programa de integridade pecuária.
O WWF-Brasil foi convidado a conduzir a verificação dos carregamentos iniciais e colaborar na seleção de exportadores capacitados a fornecer carne livre de desmatamento e conversão. Nos últimos anos, a organização tem promovido o diálogo entre Brasil e China sobre cadeias de fornecimento sustentáveis, sendo pioneira em incluir o tema no debate político desde 2016.
A China, maior comprador de carne e soja brasileiras, desempenha papel fundamental no combate ao desmatamento e à conversão de florestas nativas. Iniciativas como o lançamento do padrão sustentável Especificação para o Comércio Verde da Indústria de Carnes, liderado pela CMA, estabelecem diretrizes para cadeias produtivas livres de desmatamento e conversão.
Além disso, estudos como o relatório publicado pelo WWF-Brasil em 2021 mostram que é possível aumentar a produtividade pecuária sem desmatamento, estimando investimentos entre R$ 127 e R$ 245 bilhões para recuperar mais de 100 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil.
Ao atender à demanda por produtos sustentáveis, o Brasil pode impulsionar a recuperação de áreas degradadas, aumentar a eficiência da agropecuária e abrir novos mercados. Para Yu Xin, do WWF-China, essa iniciativa representa uma solução que beneficia produtores brasileiros e consumidores chineses, promovendo práticas ambientais responsáveis e fortalecendo o comércio entre os países.