Nesta sexta-feira (27), o dólar registrou alta de 0,22%, fechando a R$ 6,1931, em meio a um cenário de pressão fiscal interna e movimentos externos desfavoráveis. A valorização reflete, principalmente, os dados negativos da indústria na China, maior mercado para commodities industriais brasileiras, e o aumento nos rendimentos dos Treasuries americanos, que fortalecem a moeda dos EUA frente às economias emergentes.
Sem intervenções do Banco Central (BC), o mercado brasileiro acompanhou o movimento global. Internamente, fatores como a rolagem de contratos futuros e as remessas ao exterior de lucros e dividendos também impulsionaram a valorização do dólar.
Durante o dia, o dólar oscilou bastante. Chegou a bater R$ 6,2154 na máxima, com alta de 0,58% nos primeiros dez minutos de negociação, mas recuou a R$ 6,1712 (-0,13%) na mínima, sob influência da formação da penúltima Ptax de 2024. No entanto, a moeda americana retomou a trajetória de alta na segunda metade do pregão, encerrando com valorização.
A leitura qualitativa do IPCA-15 de dezembro indicou uma desaceleração na inflação geral, mas a alta nos preços de serviços subjacentes reforça a necessidade de uma política monetária rígida por parte do BC. Apesar disso, os juros elevados não têm sido suficientes para atrair investidores estrangeiros devido aos riscos fiscais e à crise das emendas no Congresso, que ameaçam o andamento da agenda econômica do governo para 2025.
De acordo com o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, o real segue alinhado a moedas de outros mercados emergentes. Ele destaca que a proximidade da posse de Donald Trump, com a possibilidade de novas tarifas, tem pressionado ainda mais essas economias.
Já Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust, argumenta que a desconfiança dos investidores na capacidade do governo de controlar a dívida pública e o impacto cambial sobre a inflação tornam necessária a venda de dólares pelo BC para estabilizar o mercado.
Sem apoio político suficiente no Congresso e diante do agravamento fiscal, o governo enfrenta desafios para aprovar medidas de ajuste. "Sem um choque fiscal muito forte, não há razões para o dólar cair", conclui Eduardo Velho, reforçando que a dominância fiscal mantém a moeda americana sob pressão no Brasil.