A exportação de cálculos biliares bovinos, conhecidos como "ouro bovino", tornou-se um negócio milionário na América do Sul, com destaque para a crescente demanda da China. Estas pedras, formadas na vesícula de algumas vacas, são valorizadas na medicina tradicional chinesa e em outros países asiáticos, como Japão e Coreia do Sul, devido às suas propriedades terapêuticas.
A formação natural de cálculos biliares em bovinos é rara, ocorrendo em cerca de 2% das vacas, principalmente em animais mais velhos. Esses cálculos são utilizados na produção de medicamentos para tratar transtornos neurológicos, como acidentes vasculares cerebrais (AVC) e convulsões, sendo transformados em pó para cápsulas ou comprimidos.
Com uma produção anual estimada em 1 tonelada, a China enfrenta um déficit significativo, já que sua demanda alcança 5 toneladas por ano. A alta procura impulsionou os preços, que podem chegar a US$ 200 por grama (cerca de R$ 1,3 mil), superando o valor do ouro.
O Brasil lidera como o maior exportador global, com vendas de US$ 148 milhões em 2023, seguido por países como Austrália, Colômbia e Argentina. Recentemente, a Argentina e o Uruguai começaram a formalizar protocolos de exportação para a China, visando regular o mercado e evitar atividades ilegais.
A alta valorização transformou os cálculos biliares em alvos de contrabando e roubo. Casos de invasões em residências, transporte de cargas assaltadas e falsificações já foram registrados em países como Brasil e Argentina.
No Uruguai, quatro pessoas foram condenadas por lavagem de dinheiro após remessas ilegais para Hong Kong, recebendo cerca de US$ 5 milhões em três anos. As autoridades continuam investigando a origem dos cálculos e a participação de frigoríficos na cadeia de fornecimento.
O uso de cálculos biliares na medicina chinesa remonta a mais de 2 mil anos, sendo mencionado nos textos clássicos da fitoterapia chinesa. Hoje, essas pedras são ingredientes em fórmulas modernas para tratar condições graves, tornando-se um componente indispensável na medicina asiática.
Enquanto a demanda por cálculos biliares cresce, a escassez natural impõe desafios logísticos e éticos, além de impulsionar o mercado clandestino. No entanto, a formalização de protocolos de exportação pode equilibrar o mercado e garantir benefícios econômicos para os países produtores.
O "ouro bovino" continua a simbolizar um elo curioso entre a tradição médica asiática e a indústria pecuária sul-americana, criando oportunidades e desafios para todos os envolvidos.