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Economia
23/12/2024 12:00:00

Real sofre desvalorização expressiva frente ao dólar em cenário de incertezas fiscais e políticas

Real sofre desvalorização expressiva frente ao dólar em cenário de incertezas fiscais e políticas

O real registrou uma queda acentuada frente ao dólar nos últimos três meses, acumulando uma alta de 10,36% para a moeda norte-americana, que passou de R$ 5,50 em setembro para R$ 6,07 em 20 de dezembro de 2024. Essa desvalorização superou a de outras moedas do Mercosul, como o peso uruguaio (+7,52%) e o peso argentino (+6,23%).

Principais fatores para a desvalorização

Especialistas apontam tanto fatores internos quanto externos para explicar o desempenho do real:

1. Incertezas fiscais domésticas

  • O anúncio de um pacote fiscal considerado insuficiente pelo mercado gerou dúvidas sobre a sustentabilidade das contas públicas.
  • Propostas como a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil criaram preocupações em relação ao equilíbrio fiscal.
  • Dificuldades para aprovar o pacote no Senado contribuíram para aumentar a volatilidade cambial.

2. Contexto internacional

  • A força global do dólar, impulsionada por movimentos de política monetária nos EUA, também afetou o real.
  • Investidores recorreram ao dólar como proteção contra a incerteza econômica global.

3. Intervenções do Banco Central

  • O Banco Central do Brasil interveio no mercado cambial sete vezes em uma semana, ofertando dólares no mercado à vista.
  • Apesar de inicialmente conter a alta, o dólar voltou a subir após novas incertezas políticas e fiscais.

Perspectivas para o dólar

Especialistas acreditam que o dólar pode permanecer em patamares elevados, dependendo de fatores como:

  • Incertezas fiscais e políticas no Brasil.
  • Deterioração econômica global.
  • Movimentos da política monetária no Brasil e nos EUA.

Segundo Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, a demanda por dólar como proteção pode reacender caso haja novos ruídos fiscais ou institucionais, o que abriria espaço para recordes na cotação.

O papel do Banco Central e do Executivo

A relação entre o Banco Central e o governo federal também tem influenciado o mercado. Declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva geraram ruídos que impactaram negativamente a credibilidade institucional e aumentaram o prêmio de risco.

Autonomia do Banco Central

Para o economista Otto Nogami, a independência do BC é essencial para manter a confiança dos investidores e evitar interferências políticas na política monetária. Ele sugere:

  • Evitar declarações que gerem ruídos.
  • Avançar em reformas estruturais.
  • Cumprir metas fiscais para melhorar a percepção de risco.

Impactos econômicos e próximos passos

Embora a aprovação do pacote fiscal tenha ajudado a conter parte da especulação, o mercado ainda espera medidas mais robustas, como ajustes na previdência militar e redução de supersalários.

No curto prazo, o Banco Central deve continuar intervindo para estabilizar o câmbio, enquanto o governo enfrenta o desafio de alinhar a comunicação e implementar reformas estruturais que fortaleçam a confiança econômica.