Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), anunciaram um avanço que pode transformar o diagnóstico da doença de Alzheimer: um exame de sangue simples e acessível. O estudo, publicado na revista Alzheimer & Dementia, identificou um biomarcador chamado fator de crescimento placentário (PlGF), que pode detectar alterações cerebrais precoces associadas à demência, antes mesmo que os sintomas cognitivos se manifestem.
Atualmente, o diagnóstico da doença ocorre em estágios avançados, geralmente por meio de avaliações clínicas e exames de imagem caros. A nova descoberta pode oferecer uma ferramenta econômica de triagem neurológica, especialmente em populações de risco.
Os pesquisadores observaram que a disfunção nas células que revestem os vasos sanguíneos do cérebro é um dos principais gatilhos da doença cerebral de pequenos vasos (DCPV), que está diretamente ligada ao declínio cognitivo e à demência. Essa condição pode causar vazamentos nos vasos, permitindo a entrada de moléculas inflamatórias no tecido cerebral.
O PlGF mostrou-se um indicador promissor, com potencial para rastrear e monitorar o comprometimento cognitivo, identificando lesões vasculares cerebrais antes que danos irreversíveis se instalem.
Para os pesquisadores, a triagem precoce é crucial. "Como biomarcador para doenças cerebrais de pequenos vasos e demência, o PlGF poderia ajudar médicos e pesquisadores a identificar pacientes em risco e monitorar lesões vasculares de maneira eficaz e acessível", afirmou o neurologista Kyle Kern, um dos autores do estudo.
O exame foi testado em 370 participantes com mais de 55 anos em seis campi universitários nos Estados Unidos. Embora os resultados sejam promissores, os pesquisadores ressaltam a necessidade de estudos adicionais para validar o biomarcador.
O Alzheimer está associado a fatores de risco modificáveis, como hipertensão, sedentarismo e consumo de álcool. Segundo a professora Claudia Suemoto, da USP, no Brasil, os principais fatores incluem baixa escolaridade, hipertensão na meia-idade e perda auditiva. A identificação precoce pode permitir ajustes no estilo de vida e intervenções médicas que retardem ou previnam a progressão da doença.
Além disso, novas drogas estão em desenvolvimento. Estudos previstos para 2025 avaliarão o impacto da semaglutida, substância presente no medicamento Ozempic, em pacientes com comprometimento cognitivo leve.
A professora Suemoto destacou a importância de políticas públicas para lidar com fatores de risco, como campanhas educativas e maior acesso ao diagnóstico de hipertensão. "Embora mudanças individuais sejam importantes, apenas políticas públicas podem alcançar a população em larga escala", disse ela.
A descoberta do biomarcador PlGF abre caminho para avanços no diagnóstico, prevenção e tratamento do Alzheimer, oferecendo esperança a milhões de pessoas em todo o mundo.