O dólar à vista registrou forte alta nas últimas semanas, atingindo R$ 6,20 nesta terça-feira (17/12), às 12h10, mesmo após intervenções consecutivas do Banco Central (BC) no mercado de câmbio. Desde sexta-feira (13/12), o BC realizou três leilões extraordinários no mercado à vista para fornecer liquidez à moeda americana. Apesar disso, a alta se mantém devido a incertezas fiscais e fatores sazonais característicos do mês de dezembro.
Especialistas apontam que a principal razão para a valorização do dólar é a preocupação com o quadro fiscal brasileiro, ou seja, o desequilíbrio entre gastos e receitas públicas. Há receios no mercado de que o pacote de cortes de despesas apresentado pelo governo ao Congresso seja “desidratado” durante sua tramitação.
De acordo com Emerson Vieira Junior, da Convexa Investimentos, os investidores buscam proteção diante desse cenário. “O mercado já mostrou que vai comprar o que o Banco Central oferecer, por isso o dólar não cai, apesar dos leilões realizados nos últimos dias”, destaca.
Desde o início das intervenções, o BC ofertou:
Embora a questão fiscal seja o fator predominante, Beto Saadia, diretor da Nomos Investimentos, observa que o BC atua também para reduzir a volatilidade no mercado cambial, o que impacta empresas ligadas ao comércio exterior. Com menor volatilidade, os custos de hedge (proteção contra oscilações cambiais) dessas empresas diminuem, ajudando a conter a inflação.
Saadia ressalta que o mês de dezembro apresenta características específicas que justificam as intervenções:
A preocupação do mercado é reforçada pela incerteza fiscal e pela proximidade da mudança na diretoria do Banco Central, que deve ocorrer em breve. Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, as frequentes intervenções do BC evidenciam uma pressão estrutural sobre o câmbio, reforçando dúvidas sobre a eficácia das medidas diante de um cenário interno desfavorável.
“No contexto interno, o risco fiscal é o principal fator. As propostas de ajuste do governo têm sido criticadas por sua insuficiência para conter o crescimento da dívida pública”, explica Lima. Além disso, há incerteza quanto à execução prática do pacote de ajustes e críticas recorrentes do governo ao Copom (Comitê de Política Monetária), o que gera dúvidas sobre o comprometimento com a meta de inflação.
O cenário indica que, enquanto as incertezas fiscais e políticas persistirem, a pressão sobre o câmbio deve continuar, mesmo com as intervenções do Banco Central.