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Acidente
14/12/2024 22:00:00

Amazônia registra maior número de queimadas em 17 anos: impactos e desafios

Amazônia registra maior número de queimadas em 17 anos: impactos e desafios

O ano de 2024 será lembrado como um dos mais críticos para a Amazônia, que enfrentou o maior número de queimadas e incêndios florestais em 17 anos. Segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 137.538 focos de calor até o início de dezembro, um aumento de 43% em relação a 2023, quando foram contabilizados 98.646 focos. O único ano mais devastador foi 2007, com 186.480 registros.

Pará lidera focos e enfrenta impactos severos

Com 50,6% dos focos de calor do país, a Amazônia foi o bioma mais impactado, sendo o Pará o estado com maior concentração, totalizando 54.561 focos. Os municípios de São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso foram os mais afetados. As queimadas estão fortemente associadas ao desmatamento ilegal, que comprometeu a qualidade do ar em diversas cidades, como Santarém, onde foi decretada situação de emergência ambiental.

Entre setembro e novembro, a Secretaria Municipal de Saúde de Santarém registrou 6.272 atendimentos por problemas respiratórios causados pela poluição do ar. Em novembro, os níveis de poluentes foram 42,8 vezes superiores ao limite anual recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mudanças climáticas e desafios naturais

O engenheiro florestal Alexandre Tetto explica que a Amazônia é particularmente vulnerável ao fogo, pois sua vegetação não possui adaptações de resistência. A estiagem prolongada, altas temperaturas e baixa umidade em 2024 criaram condições ideais para a propagação de incêndios. Apesar de existirem métodos de queima controlada autorizada para manejo agrícola, a maioria dos focos na Amazônia é provocada ilegalmente.

Francisco Sakaguchi, agricultor de Tomé-Açu, relata um cenário sem precedentes:

"Nunca vi o meu lago secar. Este ano tivemos 150 dias sem chuva e índices de umidade do ar abaixo de 50%, algo inédito na região."

Mobilização contra as queimadas

Para enfrentar os incêndios, o governo do Pará intensificou as operações, mobilizando 120 bombeiros, novas viaturas e helicópteros para o combate. O governo federal também reforçou o apoio com 1.700 profissionais, 11 aeronaves e 300 viaturas em toda a Amazônia. Além disso, foram aprovadas medidas para financiar ações de emergência, como a liberação de R$ 514 milhões para o combate aos incêndios.

O Ministério do Meio Ambiente destacou avanços como a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, sancionada em julho, e pactos com governadores para reduzir o desmatamento e combater queimadas.

Uma crise de grandes proporções

Além dos danos ambientais, os incêndios colocam em risco a saúde das populações locais, aumentam o desmatamento e agravam as mudanças climáticas. A combinação de fatores naturais e ações humanas ilegais exige investigações mais eficazes e ações coordenadas entre estados e o governo federal.

Como enfatiza o brigadista Daniel Gutierrez, de Alter do Chão:

"A maioria das queimadas aqui é provocada. Precisamos melhorar a investigação e a responsabilização, porque o impacto disso na Amazônia é imenso."

A Amazônia vive um momento de extremos, com urgência de ações mais intensivas para evitar que a situação se agrave ainda mais nos próximos anos.