Na madrugada de quarta-feira (27), 150 pessoas vindas do Líbano, incluindo 17 idosos e muitas crianças, desembarcaram na base aérea de Guarulhos, no Brasil.
Dentre elas estava Mona Houssami, que morava há 15 anos no Líbano e lamentou a tragédia causada pela guerra entre Israel e o grupo armado libanês Hezbollah.
“É muito duro ver o país da gente se destruir por nada. Porque é muito injusto. Os países que estão ao redor também estão sendo destruídos. É por causa de petróleo, por causa de território, por causa de um monte de coisa que não tem nada a ver com o que deve ser mesmo. E eu estou muito feliz, agradecendo muito a repatriação do Cedro aqui, que mandou avião pra gente”, disse ela.
Este foi o 13° e, possivelmente, o último voo de repatriação organizado pelo governo brasileiro na Operação Raízes do Cedro, totalizando 2662 pessoas trazidas do Líbano, além de 34 animais de estimação.
Com a entrada em vigor, nesta quarta-feira, de um cessar-fogo no país árabe, as autoridades brasileiras irão avaliar a demanda e as condições de segurança para decidir sobre um eventual 14° voo e o futuro da operação.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que a Embaixada do Brasil em Beirute segue em contato com brasileiros e seus familiares para auxiliar na aquisição de passagens aéreas.
A Operação Raízes do Cedro conta com apoio de agências da ONU na recepção e apoio aos repatriados. Para a chefe do escritório em São Paulo do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Maria Beatriz Nogueira, a iniciativa representa um exemplo de política pública.
“São números históricos de repatriação que a gente está testemunhando hoje aqui nesse último receptivo. E essa política de repatriação se consolidando como uma política pública, como uma política pública feita em rede. Então, todo o nosso apoio para a continuidade e fortalecimento dessa política”, afirmou.
O Acnur se envolve no processo de recepção em entrevistas para identificar demandas e necessidade de proteção, apoio à documentação, reencontro com as famílias e acolhimento dos que não têm familiares.
A coordenadora geral de emergências no Sistema Único de Assistência Social (Suas), Cinthia Miranda, enfatizou o compromisso do Brasil em promover inclusão e proteção social para os recém-chegados.
“O governo brasileiro tem uma das legislações de maior vanguarda no mundo em relação a receber migrantes. Nós também temos um sistema de proteção social que inclui serviços, benefícios. A gente acredita no combate à pobreza, no combate à vulnerabilidade e que a gente é um país modelo para o mundo, na garantia de direitos. E a gente quer, inclusive nessa operação, mostrar esse lado humano e receptivo do Brasil”, declarou.
Ela ressaltou que esta é uma operação que “envolve muitas mãos”, incluindo diversos ministérios, agências da ONU e organizações da sociedade civil, com destaque para a diáspora árabe-libanesa.
A coordenadora de projetos da Organização Internacional para Migrações (OIM), Thaís Senra, explicou que a agência fornece apoio logístico contínuo, com hotel e passagens, garantindo uma boa recepção no país e posteriormente apoiando medidas de inclusão na sociedade brasileira.
Ao desembarcar em Guarulhos, a brasileira Nura Yassine, que vivia há 16 anos no Líbano, relatou que a guerra gerava “muito medo e muito pensamento negativo” e disse estar aliviada de chegar no Brasil. Ela disse esperar que possa retornar um dia para um Líbano “sem sons de aviões de guerra”.
A Operação Raízes do Cedro é considerada a maior iniciativa de repatriação de brasileiros de uma zona de conflito.