Após o anúncio dos EUA de que quatro membros do Estado Islâmico (EI) foram mortos em uma operação realizada na semana passada no Iraque, o governo iraquiano relatou mais uma importante vitória contra o grupo terrorista. Desta vez, o principal líder da facção no país árabe teria sido morto. As informações são do site The Defense Post.
Jassim al-Mazrouei Abu Abdel Qader, que o EI considerava o “governador” do Iraque, teria sido morto em uma operação nas montanhas de Hamrin, no norte iraquiano, com apoio “técnico e logístico” das Forças Armadas norte-americanas.
De acordo com o Comando de Operações Conjuntas do Iraque, que se manifestou sobre a operação na terça-feira (22), “grandes quantidades de armas” foram apreendidas, e no momento do anúncio a operação “ainda estava em andamento”.
O relato foi confirmado pelo porta-voz do Pentágono, major-general Pat Ryder, segundo quem foi realizado um “ataque conjunto no Iraque, visando vários líderes seniores do EI”. Ele afirmou, ainda, que “dois militares dos EUA que ficaram feridos” e estão em “condições estáveis”.
Quem também celebrou o sucesso da operação foi o primeiro-ministro Mohammed Shia al-Sudani, cujo gabinete emitiu uma nota destacando o “assassinato do chamado governador do Iraque e de oito líderes seniores da organização terrorista Daesh”, usando uma sigla em árabe para se referir ao EI.
Na semana passada, o Comando Central (Centcom) das Forças Armadas dos EUA havia anunciado que um ataque aéreo realizado pelas Forças Armadas iraquianas matou outro oficial do Ei, bem como três combatentes do grupo.
O oficial EI morto na operação foi identificado como Shahadhah Allawi Salih Ulaywi al-Bajjari, também conhecido como Abu Issa. Ele era a mais graduada autoridade do grupo terrorista no norte do Iraque.
Os EUA mantêm cerca de 2,5 mil soldados no Iraque, mas eles se preparam para encerrar a missão até setembro de 2025. A partir dali, os militares permanecerão por mais um ano na Síria, de onde sairão em setembro de 2026.
O Estado Islâmico (EI) passou por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.
Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo. O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.
Ultimamente, porém, os EUA relatam um ressurgimento do grupo extremista que se concentra na Síria, onde novos seguidores são treinados para atuar como homens-bomba. Diante de tal cenário, dobraram em 2024 os ataques contra as forças aliadas de combate ao terrorismo, que ocorrem também no Iraque.
Mas o continente onde a facção mantém presença mais relevante é a África, através de afiliados locais. Um deles é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali, em Burkina Faso e no Níger. Ainda tenta alcançar a Nigéria para fins logísticos e de recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).
“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.
Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.
Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).
A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.
“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”