Em uma das declarações mais contundentes de uma autoridade saudita desde o início da guerra em Gaza, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman condenou duramente as ações militares de Israel, classificando-as como “genocídio“. A fala ocorreu durante uma cúpula de líderes árabes e muçulmanos, realizada na Arábia Saudita, que reuniu chefes de Estado para discutir a escalada de tensões no Oriente Médio. As informações são da BBC.
O príncipe Mohammed criticou não apenas as operações de Israel em Gaza, mas também seus recentes ataques contra o Líbano e o Irã, numa crítica abrangente à política militar israelense na região. “As ações de Israel em Gaza são inaceitáveis e equivalem a genocídio”, afirmou o líder saudita, ecoando o sentimento de vários países muçulmanos que vêm condenando a ofensiva israelense contra o território palestino.
Em resposta, o governo israelense negou veementemente as acusações, afirmando que suas operações têm como alvo grupos terroristas e que está agindo em legítima defesa. Tel Aviv rejeitou a alegação de genocídio, classificando-a como “propaganda política”.
A declaração de Mohammed bin Salman ocorreu em um contexto de aproximação entre Riad e Teerã, rivais históricos que, nos últimos meses, vêm demonstrando um esforço conjunto para melhorar as relações diplomáticas. Durante seu discurso, o príncipe herdeiro fez um alerta direto a Israel para que evite ataques em solo iraniano, sinalizando um fortalecimento dos laços entre os dois países, tradicionalmente adversários.
O tom conciliatório entre Arábia Saudita e Irã representa um avanço significativo na política regional, especialmente em meio a uma conjuntura de alta tensão e violência no Oriente Médio.
O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, príncipe Faisal Bin Farhan Al-Saud, criticou a inação da comunidade internacional em relação ao conflito em Gaza, descrevendo-a como uma “falha” por não ter conseguido deter a guerra em andamento. O príncipe acusou Israel de provocar uma crise humanitária no território palestino, resultando em fome generalizada entre a população.
“Onde a comunidade internacional falhou principalmente foi em acabar com o conflito imediato e pôr fim à agressão de Israel”, declarou Faisal Bin Farhan durante seu discurso, destacando a necessidade urgente de ações diplomáticas para interromper a violência.
O conflito em Gaza foi desencadeado pelo ataque surpresa do Hamas em 7 de outubro de 2023, que envolveu a invasão de centenas de militantes ao sul de Israel. O ataque resultou na morte de cerca de 1,2 mil pessoas e no sequestro de 251 civis, aumentando rapidamente as tensões na região. Em resposta, Israel lançou uma ampla campanha militar com o objetivo de destruir a infraestrutura do Hamas, o que, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo militante, resultou na morte de mais de 43,4 mil pessoas no território até agora.
Um relatório recente do Escritório de Direitos Humanos das ONU (Organização das Nações Unidas) revelou que, em um período de seis meses de conflito, aproximadamente 70% das vítimas confirmadas eram mulheres e crianças, evidenciando o impacto devastador da guerra sobre a população civil.
Durante a cúpula, a recente reeleição de Donald Trump foi tema de debate. Os líderes do Golfo, que mantêm laços estreitos com o republicano devido à sua relação próxima com Israel, esperam que sua influência possa ajudar a resolver os conflitos regionais.
Na Arábia Saudita, Trump é visto de forma mais positiva do que Joe Biden, apesar de seu histórico ambíguo no Oriente Médio. Enquanto agradou Israel ao reconhecer Jerusalém como sua capital e aceitar a anexação das Colinas de Golã, Trump também gerou descontentamento no mundo muçulmano. No entanto, ele foi fundamental nos Acordos de Abraão em 2020, que levaram Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos a estabelecerem relações diplomáticas formais com Israel, com o Sudão seguindo essa direção.
Um editorial saudita destacou: “Uma nova era de esperança. O retorno de Trump e a promessa de estabilidade.”