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Acidente
26/10/2024 00:00:00

Com PCC focado em tráfico internacional, CV amplia poder sobre estados

Autoridades ouvidas pelo Metrópoles acreditam em falta de interesse do PCC por domínio de mercados regionais de drogas


Com PCC focado em tráfico internacional, CV amplia poder sobre estados

Enquanto o PCC se concentra no tráfego internacional, o CV aumenta o poder sobre os estados

Autoridades entrevistadas pelo Metrópoles dizem que o PCC não tem interesse em dominar os mercados regionais de drogas

Enquanto o Primeiro Comando da Capital (PCC) foca na expansão de sua atuação no mercado internacional, as facções cariocas, Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP), conquistaram territórios e ampliaram seus poderes em importantes estados do país.


Nos últimos cinco anos, segundo relatórios policiais da Bahia e de Minas Gerais, por exemplo, CV e TCP avançaram em áreas dominadas por facções regionais alimentadas pelo PCC.


Para autoridades de segurança pública e pesquisadores ouvidos pelo Metrópoles, o fenômeno, também observado no Nordeste, pode ser explicado pelo desinteresse do PCC pelos mercados regionais de drogas.


A facção paulista, que atualmente está presente em pelo menos 23 países, fatura cerca de 11 bilhões de reais por ano apenas com a pasta base de cocaína exportada pelo porto de Santos, segundo estimativa do Ministério Público de São Paulo. Segundo a acusação, um quilo de cocaína comprado por 1200 dólares na Bolívia é vendido por pelo menos 35 mil euros na Europa. O lucro, muito superior ao obtido nas lojas, incentivou o PCC a “deixar” a venda de drogas.


“Hoje, o tráfico internacional à base de cocaína representa dois terços da atuação do PCC. Não temos informações sobre o que está acontecendo em outros estados, mas aqui em São Paulo praticamente abandonaram os conselhos internos”, afirma um promotor de Justiça. o Grupo de Ação Especial para o Combate ao Crime Organizado, ouvido em Metropolis em particular.


Para o pesquisador Bruno Paes Manso, do Centro de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, a dominância territorial não faz parte do modelo econômico do PCC e, ocasionalmente, consegue garantir o funcionamento das rotas de trânsito para pontos estratégicos para a exportação de drogas.


“Essa estratégia de dominação territorial e comércio local é muito mais característica do Comando Vermelho. Acho que houve uma lacuna que o Comando Vermelho preencheu desde que adquiriu essa dimensão nacional mais atual”, disse Paes Manso ao Metrópoles.


“Hoje, o PCC está realmente focado no mercado internacional. O controle que exerce diz respeito, em última análise, às rotas de tráfego dos Andes para a Europa.

A expansão das facções cariocas


Em Minas Gerais, a expansão das facções cariocas é mais intensa há pelo menos cinco anos, segundo Christian Vianna de Azevedo, subsecretário de integração da segurança pública de Minas Gerais. Antes disso, disse ele, a colaboração entre o PCC e as gangues locais era generalizada em todo o estado. "O PCC existe há mais tempo. Veio para o oeste de São Paulo, em parte por causa de sua ligação cultural com o triângulo mineiro. Essas gangues aliadas do PCC operam em todo o estado, não necessariamente sob o guarda-chuva rígido da liderança central. Mais com o tempo, as coisas mudaram na região", diz Azevedo ao Metrópoles.


“O que mais nos chamou a atenção nos últimos anos é o avanço do CV na Zona da Mata, no sudeste do estado. Esse processo começou mais ou menos durante a pandemia. A facção é originária do Rio de Janeiro. Recentemente, notamos também a presença do TCP, que até agora não era visível”, acrescenta o subsecretário.


Segundo Christian Vianna, o TCP tenta dominar a comunidade da Cabana Pai Tomás, em Belo Horizonte, mas, até o momento, é cedo para falar em domínio territorial. “Hoje é aí que entra o Estado, é aí que entra a polícia”.

Na Bahia, o avanço do Comando Vermelho (CV) continuou por cerca de três anos, segundo fontes oficiais. Assim como em Minas Gerais, a atuação do PCC no estado é em grande parte indireta. O grupo é aliado do Bonde do Maluco (BDM), principal facção baiana, fundada em 2015 como braço da facção Caveira.


“O PCC atua na Bahia há muito tempo, como aliado do Bonde do Maluco, que é uma facção bem estruturada lá. Mas temos notado cada vez mais a presença do Comando Vermelho e também do Terceiro Comando Limpo”, diz fonte oficial da SSP-


“O estado da Bahia é estratégico em termos de criminalidade, com rotas estratégicas por todo o Nordeste. São pelo menos seis portos, públicos e privados, que são naturalmente alvo das facções”, acrescenta.


O coronel Uirá Ferreira, subsecretário de inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro, diz que a Bahia está em situação semelhante à vivida pelo Rio de Janeiro há vinte anos.


“São facções cariocas que estão lutando pelos territórios aqui. A Bahia hoje se parece muito mais com o Rio de Janeiro. Eles viveram uma situação que conhecíamos há 20 anos em termos de conflitos territoriais”, disse Uirá Ferreira ao Metrópoles. “Penso que é prematuro dizer que o PCC não estaria interessado nestas regiões. É um grupo internacional, mas tenho dificuldade em abandonar estas áreas.

"Proprietário Principal"


As principais facções criminosas do Rio de Janeiro dependem cada vez menos do tráfico de drogas para sobreviver, segundo informações do setor de inteligência da Polícia Militar do estado.


Os traficantes dependem agora do controlo territorial e de um modelo de extorsão adoptado pelas milícias para tirar vantagem das comunidades.
“Esta exploração da venda de drogas tornou-se uma espécie de folclore. Hoje, o crime é alimentado por outras atividades, que se infiltram nos serviços do Estado, como a faturação da Internet, a distribuição de electricidade e de água”, disse Uira Ferreira.

A Polícia Militar do Rio estima que pelo menos 1.625 áreas estejam sob controle do crime organizado em todo o estado.


Para o pesquisador Bruno Paes Manso, do Centro de Estudos da Violência da USP, a adoção do modelo miliciano responde a uma “questão de identidade territorial” característica do Comando Vermelho.

“A questão das alianças de gangues de outros estados com o PCC é muito mais você criar uma rede de comércio. Você faz parte dessa rede, é profissional, é responsável pelo seu serviço, a venda, a compra. Eles compram do PCC, então fazem parte do PCC. O CV não. Para o CV tem muito a questão do controle territorial armado da quebrada, isso parece que faz mais a cabeça da galera”, diz Paes Manso ao Metrópoles.

“É dizer ‘eu sou o dono da quebrada. Eu não sou simplesmente uma peça na rede’. Isso acontece na Bahia, no Ceará. Tem uma questão identitária do território, de ser dono do território e entrar em guerra com o cara do outro território. Isso parece fazer mais sentido para uma molecada que está no tráfico e tem todo esse deslumbre de a masculinidade do cara, de ser o dono do morro. Isso dá sentido para o negócio, é mais concreto”, acrescenta o pesquisador.

 



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