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Religião
24/10/2024 06:00:00

Véus, cabelos longos e saias: o que a Bíblia diz sobre a aparência das mulheres


Véus, cabelos longos e saias: o que a Bíblia diz sobre a aparência das mulheres

Edison Veiga
De Bled (Eslovênia) à BBC News Brasil

No livro recentemente publicado Igrejas, Calam Mulheres, pastor batista, teólogo e YouTuber Yago Martins, dedica dois capítulos à ideia, defendida por muitas denominações cristãs contemporâneas, de que existe um código de vestimenta bíblico para as mulheres crentes.


Ele mesmo menciona que até hoje muitos pastores proíbem as mulheres de cortar os cabelos, depilar as axilas, pernas e partes íntimas, pintar as unhas e se maquiar, usar brincos cacheados e outros adornos. “Tais grupos estão associados a uma espécie de renascimento da oração fervorosa e intensa, mas também a uma cultura muito intrusiva quando se trata de questões de aparência”, critica Martins.


No entanto, o pastor – decididamente conservador – afirma no seu artigo que concorda com os pontos de que “vivemos numa cultura guiada por padrões de moda que não são moralmente neutros”, trazendo “uma boa quantidade de ódio a Deus”. e despojado “de qualquer sinal de moralidade.


Além disso, ele enfatiza que a Bíblia “não nos deixa sem certos padrões de como devemos nos vestir”. “A escrita fala de forma mais geral dos perigos da vaidade, de uma preocupação exagerada com a nossa aparência. E isso dará padrões que não são muito específicos, mas também são termos gerais para a modéstia, que é a linguagem que usamos para falar sobre como nós vestido", disse ele à BBC News Brasil.


Beleza e pecado


Existem muitas passagens bíblicas que relacionam tratamentos de beleza com práticas consideradas pecaminosas.


No segundo livro dos Reis, Jezabel “pintou os olhos, arrumou o cabelo e sentou-se à janela” para seduzir Jeú. Em Provérbios, a mulher adúltera é descrita como vestindo “roupas provocantes”.

O pastor Martins lembra que no livro do Gênesis, o primeiro da Bíblia, “descobrimos que as roupas foram criadas por causa do pecado” porque “lemos que Adão e Eva estavam nus e que a falta de roupas não representava vergonha”

É então, segundo o texto bíblico, que o pecado os torna conscientes da sua nudez e vergonha, por isso “cozinham folhas de figueira para se cobrirem”.


Na primeira carta a Timóteo, o apóstolo Paulo ordenou que “as mulheres fossem discretas na aparência”.
“Devem usar roupas dignas e adequadas, sem chamar a atenção para a forma como usam os cabelos ou usar ouro, pérolas ou roupas caras. Porque as mulheres que se dizem piedosas a Deus devem ser adornadas com as boas ações que praticam”, escreveu.

Em sua primeira carta, Peter também exortou as mulheres a não se preocuparem com “a beleza externa alcançada por penteados extravagantes, joias caras e roupas finas”.


No livro Igrejas que Calam as Mulheres, Martins destaca que “As Escrituras não condenam os cuidados com o corpo, nem criam padrões absolutos de vestimenta”, embora não apontem “alguns limites claros”.


“Não me cabe determinar o tamanho da sua saia, nem nada parecido. Se Pedro e Paulo não fizeram, eu não fiz”, enfatiza o padre. "No entanto, as Escrituras contêm respostas para uma série de controvérsias sobre como nos vestimos." O caso calças versus saias foi discutido por ele.

 Ele lembra que em muitos círculos conservadores as mulheres ainda são proibidas de usar calças, não só nas igrejas pentecostais, mas também em outras igrejas protestantes e até em círculos católicos mais tradicionais.


A Bíblia não diz qual deve ser o tamanho da saia e não diz se calças ou vestido são apropriados, até porque são textos escritos há 2.000 anos, então não é um modelo que possamos trazer aqui”, sublinha. teólogo

Em outras palavras, devemos ter cuidado para não cair no anacronismo. As calças foram condenadas quando eram peças que não faziam parte do vestuário feminino, e “o significado das roupas muda com o passar dos anos”.


"A Bíblia se refere a uma época e a uma cultura, ou melhor, a culturas diferentes. Isto não pode ser considerado um mandato divino. A vestimenta é uma expressão da mudança de tempos e culturas", comenta a filósofa e teóloga feminista Ivone Gebara, freira agostiniana e autora, entre outros livros, Unpleasant Daughters of Eve in the Church of America à BBC News Brasil Latin


Véu para mulheres casadas


Véus e cabelos longos são outros pontos comumente associados aos crentes de religiões tradicionais. Não apenas protestantes.
A Igreja Católica estipulou, no Código de Direito Canônico de 1917, que as mulheres deveriam “cobrir a cabeça e vestir-se com recato, principalmente quando se aproximassem da mesa do Senhor”. O artigo já não estava em vigor no código de 1983 – mas a prática estava fora de uso desde a década de 1960, com o Concílio Vaticano II.


Martins lembra, porém, que os setores conservadores do catolicismo ainda recomendam o véu e que esta parte é necessária nos encontros entre as mulheres e o Papa.


No segmento protestante, algumas denominações exigem que os cabelos sejam cobertos. O teólogo cita a Congregação Cristã do Brasil, conhecida como “Igreja do Véu”. Segundo ele, na caderneta oficial da instituição está especificado que “sempre que uma mulher reza ou profetiza, sua cabeça deve estar coberta”.

Na Bíblia, Paulo diz em sua primeira carta aos Coríntios que “qualquer mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça” e “se uma mulher não usar véu, que sua cabeça seja raspada”.


O pastor comenta que há uma explicação sócio-histórica para isso. Segundo ele, no contexto greco-romano, as mulheres casadas usavam um véu na cabeça para indicar que tinham marido e não estavam disponíveis sexualmente. E raspar a cabeça era uma espécie de punição - para prostituição ou adultério.


“O véu era um sinal público de que a mulher era casada. Havia um significado de lealdade ao marido, era um elemento social naquela cultura como usar aliança hoje”, compara Martins.



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