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Saúde
19/10/2024 18:00:00

A desinformação dificulta a doação de órgãos no Brasil


A desinformação dificulta a doação de órgãos no Brasil

Mais de 65 mil pacientes aguardam na fila por um transplante. O primeiro semestre de 2024 marca um declínio na disponibilidade de doações. Escândalos como o do Rio de Janeiro abalam a confiança no sistema.


O consultor de projetos, natural de Minas Gerais, está entre os milhares de brasileiros que tiveram a chance de recomeçar a vida após receber um transplante. Ele conta que, em alguns momentos, desconfiou se encontraria um doador compatível. Fez oito meses de hemodiálise até, finalmente, ser submetido ao transplante.

Ele diz que às vezes não sabia se conseguiria encontrar um doador adequado. Ele passou por oito meses de hemodiálise antes de finalmente ser submetido a um transplante.

Compartilhando o mesmo sonho, mais de 65 mil pessoas estão atualmente na fila do Ministério da Saúde para conseguir um transplante. Contudo, casos como o de Alexandre Soares podem estar ameaçados por uma onda de desinformação sobre o procedimento. Durante o primeiro semestre de 2024, mais de 45% das famílias se recusaram a doar os órgãos de seus entes queridos após sua morte, segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Esta é uma das piores taxas de rejeição já registradas no país. Houve uma queda de 4,9% em relação ao ano passado.

As taxas de rejeição variam de acordo com o estado. O Paraná tem o maior índice de aceitação de transplantes, com apenas 25% de rejeição durante o processo de doação. No Acre, esse número chega a 77%. No país, o transplante de órgãos e tecidos é feito apenas com autorização da família, mesmo que a pessoa tenha feito declaração durante a vida como doador.

“O principal motivo da recusa é o desconhecimento e a falta de informação, sem falar no despreparo de alguns profissionais de saúde para prestar esse atendimento humanizado e técnico. O ideal seria que a alíquota fosse zero, mas estamos trabalhando com meta de 20%”, explica Tadeu Thomé, integrante da coordenação de transplantes da ABTO.

Fila de espera


O rim é o órgão com maior fila de espera, com 40 mil brasileiros na lista. O tempo médio de espera é de 18 meses. O fígado é o segundo órgão mais solicitado, com 2,3 mil pessoas na fila. Pouco depois, o coração, com 404 pacientes aguardando. Entre elas 44 crianças até dez anos. 

Só entre janeiro e junho deste ano, 1,7 mil pessoas morreram no Brasil enquanto aguardavam um transplante.


E o cenário de desconfiança tende a piorar mesmo depois de casos como o do Rio de Janeiro, onde seis transplantados receberam órgãos infectados pelo vírus HIV, um caso inédito no sistema público de saúde (SUS). Os órgãos infectados vieram de dois doadores.


Os testes foram realizados em laboratório privado contratado pela Fundação Saúde, sob responsabilidade da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, para apoiar o programa de transplantes no estado. Segundo investigação da Polícia Civil, divulgada nos últimos dias, representantes da empresa reduziram o controle de qualidade para aumentar os lucros.


“Este é um acontecimento terrível, porque mina a confiança no sistema de saúde e enfraquece a nossa reputação, pela qual tanto lutamos. O Brasil é referência mundial em transplante de órgãos e devemos continuar com a mesma qualidade”, avalia Carlos Henrique Boasquevisque ex-chefe do Departamento de Cirurgia Torácica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Referência a transplantes


Apesar da desconfiança da população, o Brasil é referência mundial em transplantes.

Somente no primeiro semestre de 2024, 4,5 mil órgãos, além de 8,2 mil córneas e 1,5 mil medula óssea, foram transplantados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em números absolutos, o país perde apenas para os Estados Unidos.

Boaskevisque menciona a importância de resultados positivos na conscientização sobre o tema. O conhecimento aumenta as chances de doação, diz ele.

“Precisamos ampliar a credibilidade do nosso sistema de transplante de órgãos no Brasil, mostrar o número de pessoas que são salvas todos os anos graças a esses procedimentos e fazer muita divulgação sobre esse tema”, enfatiza o médico. Além das campanhas sobre esse tema, isso reforça a necessidade de uma capacitação mais aprofundada de médicos e enfermeiros para aumentar os índices de doação.

 “Sou o primeiro contato com as famílias e devo explicar os procedimentos de forma correta e segura. Na maioria dos casos, os familiares se dispõem a doar os órgãos de seus entes queridos. explicação clara", ele ao concluir



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