Prática esportiva ganha ainda mais espaço nos currículos com ampliação da jornada de tempo e oferta de diferentes modalidades. Atividade física estimula também o desenvolvimento motor, cognitivo e social
A escola é responsável pela pessoa que eu me tornei e o esporte foi uma maneira de me encaixar nesse ambiente”, conta a ex-atleta olímpica e recordista sul-americana de arremesso de peso, Elisangela Adriano. “Foi na escola, por meio do meu professor de educação física, que eu descobri a minha modalidade e criei as ferramentas necessárias para competir em três olimpíadas.”
Foi na escola, por meio do meu professor de educação física, que eu descobri a minha modalidade e criei as ferramentas necessárias para competir em três olimpíadas.” Elisangela Adriano, recordista sul-americana de arremesso de peso
No contexto brasileiro, em que muitas cidades carecem de equipamentos públicos para prática de exercícios, a escola assume o protagonismo para formação esportiva e cidadã. Diferentemente de clubes e de centros esportivos — em que o foco está na seleção e formação de atletas de ponta —, nas instituições de ensino, a prática esportiva é uma ferramenta de inclusão e de educação corporal.
É o que afirma a pesquisadora dos Grupos de Estudos Olímpicos da Universidade de São Paulo (USP), Maria Alice Zimmermann: “A escola ainda é uma porta de entrada para a prática esportiva e o principal local de acesso a diferentes modalidades, inclusive influenciando na escolha do esporte que pretende seguir e na construção social dos alunos. Durante as pesquisas que realizamos, vimos que muitos atletas olímpicos falam dos professores e do ambiente de ensino como indissociáveis da sua trajetória atlética”.
Na educação em tempo integral (ETI), a atividade física ganha ainda mais espaço do que nas escolas de jornada parcial, uma vez que não se trata apenas da ampliação de tempo, mas também da articulação da educação com outras dimensões da vida dos estudantes, como a cultura, o meio ambiente, a ciência, a tecnologia e o esporte. Práticas físicas e de lazer fazem parte do currículo, o qual prevê momentos específicos para que interesses, talentos e vocações sejam revelados. Além disso, são ofertadas modalidades esportivas que a educação física do ensino regular não consegue abarcar, por falta de tempo ou de infraestrutura.
“No modelo de educação tradicional, por conta do tempo disponível, os exercícios físicos desempenham um papel menor e apenas os aspectos mais cognitivos são enfocados”, explica a coordenadora-geral de Educação Integral e Tempo Integral do Ministério da Educação (MEC), Raquel Franzim. “Já a jornada de tempo integral, orientada pela educação integral, potencializa as dimensões humanas, como a física por meio do esporte, contribuindo para o desenvolvimento da criatividade, do trabalho em grupo e da resolução de problemas.”
A jornada de tempo integral, orientada pela educação integral, potencializa as dimensões humanas, como a física por meio do esporte, contribuindo para o desenvolvimento da criatividade, do trabalho em grupo e da resolução de problemas.” Raquel Franzim, coordenadora-geral do Programa Escola em Tempo Integral do MEC
Além disso, segundo ela, o MEC e o Ministério do Esporte (Mesp) têm cooperado para que as diretrizes de oferta da jornada em tempo integral contemplem e aprimorem a realização não apenas de práticas esportivas, mas também de atividades corporais menos comuns nas escolas, como danças, brincadeiras, artes marciais, jogos de tabuleiros e de lazer.
Isso é importante porque os benefícios da atividade física para os estudantes vão além do condicionamento. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o recomendado é que crianças e adolescentes pratiquem, pelo menos, uma hora de exercícios diariamente para desenvolvimento motor, cognitivo, social e emocional.
A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica é um exemplo bem-sucedido de ampliação da jornada escolar na perspectiva da formação integral, ofertando o ensino médio integrado à educação profissional e tecnológica (EPT). Essa política foi incentivada a partir da criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, por meio da Lei nº 11.892/2008.
Para o diretor do Campus Estrutural do Instituto Federal de Brasília (IFB), Giano Copetti, o esporte na escola, nesse contexto, pode ser encarado como uma política pública de manutenção dos estudantes. “Muitos alunos vão para a aula e se mantêm nas instituições para participar das atividades físicas e das competições. Com isso, eles acabam estudando mais, tendo outras vivências e interagindo com outros campos do cotidiano, o que gera uma formação mais ampla e melhores oportunidades no futuro”, conta o dirigente, que também é professor de educação física no IFB.
Competir no JIF me permitiu viajar de avião pela primeira vez e o esporte me mostrou que o mundo é muito maior do que as limitações que nós nos impomos.” Ana Gabriela Maia, egressa do IFB
Campus Estrutural
Jogos dos institutos federais – Copetti ainda destaca o papel de competições interescolares, como os Jogos dos Institutos Federais (JIF), na construção de uma identidade baseada no apreço aos valores sociais-democráticos, como a honestidade, a justiça, o respeito às regras e aos outros.
Os JIF são divididos em etapas estaduais, regionais e nacional e contemplam diversas modalidades coletivas e individuais: basquete; vôlei de quadra e de areia; handebol; futsal; atletismo; judô; natação; tênis de mesa; xadrez; e futebol de campo. Para participar, os estudantes devem ter até 21 anos.
“Todo mundo falava sobre os jogos e eu queria muito participar, mas ainda não tinha uma modalidade específica”, lembra Ana Gabriela Maia, de 18 anos, campeã nacional de arremesso de peso do JIF 2023. Ela é formada no curso técnico em Meio Ambiente integrado ao ensino médio no Campus Estrutural (IFB). “Então, o meu professor me direcionou para esse caminho e me ajudou a treinar. Competir no JIF me permitiu viajar de avião pela primeira vez e o esporte me mostrou que o mundo é muito maior do que as limitações que nós nos impomos”, conta a atleta, que atualmente faz Engenharia Civil no Campus Samambaia (IFB).
Ana Gabriela Maia com as três medalhas de ouro conquistadas no JIF 2023. Foto: Leonardo Gomes/MEC
Ana Gabriela Maia com as três medalhas de ouro conquistadas no JIF 2023. Foto: Leonardo Gomes/MEC
Tempo Integral –?Lançado pelo MEC em 2023, o?Programa Escola em Tempo Integral?é uma estratégia para induzir a criação de matrículas em tempo integral em todas as etapas e modalidades da educação básica.?Coordenado pela Secretaria de Educação Básica (SEB), do MEC, o programa tem?a finalidade?de?viabilizar o cumprimento da?Meta 6 do Plano Nacional de Educação?(PNE)?2014-2024 (Lei nº?13.005/2014), política de Estado construída pela sociedade e aprovada pelo parlamento brasileiro.
Assessoria de Comunicação Social do MEC, com informações da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec)