Rfi
A família da ativista turco-americana Aysenur Ezgi Eygi, de 26 anos, morta nesta sexta-feira (6) na Cisjordânia, acusou neste sábado (7) o Exército israelense e pediu uma "investigação independente". A guerra na Faixa de Gaza entre Israel e o grupo Hamas completou 11 meses, sem a perspectiva de trégua nos combates e libertação de reféns.
A ativista turco-americana levou um tiro na cabeça durante um protesto em Beita, na Cisjordânia, contra a expansão dos assentamentos israelenses, considerados ilegais pelo direito internacional. Neste sábado, sua família acusou as Forças Armadas israelenses pela sua morte. Os Estados Unidos lamentaram uma morte "trágica" e Ancara condenou uma "intervenção bárbara de Israel".
Segundo a família da ativista, um vídeo mostra que a bala que a matou "veio de um atirador do Exército israelense". O Exército admitiu que abriu fogo na área de Beita e estava "investigando relatos de que um estrangeiro foi morto".
"Sua presença em nossas vidas foi brutal, injusta e ilegalmente tirada pelo Exército israelense", disse a família da jovem em um comunicado divulgado neste sábado. "Aysenur estava defendendo pacificamente a justiça quando foi morta por uma bala", diz o texto.
"Pedimos ao presidente (Joe) Biden, à vice-presidente (Kamala) Harris e ao secretário de Estado (Antony) Blinken que peçam uma investigação independente sobre o assassinato injusto de uma cidadã americana e garantam que os culpados sejam totalmente responsabilizados", continua o texto.
Nesta sexta-feira, o Escritório de Direitos Humanos da ONU (UNHRD) já havia divulgado um comunicado afirmando que as forças israelenses eram responsáveis pela morte da ativista, "que participava de uma manifestação pacífica".
A guerra em Gaza entra em seu 12º mês neste sábado. Em 7 de outubro de 2023, membros do Hamas realizaram um ataque no sul de Israel, que resultou na morte de 1.205 pessoas, a maioria civis, e o sequestro de outras 251. Pelo menos 33 dos reféns foram declarados mortos pelo exército e 97 continuam detidos em Gaza.
Em resposta, o Exército israelense lançou uma campanha aérea e uma ofensiva terrestre que matou 40.939 pessoas, de acordo com o último balaço do Ministério da Saúde do governo do Hamas. Segundo a ONU, a maioria das vítimas são mulheres e crianças. No total, os combates deixaram 94.616 feridos na Faixa de Gaza. Cerca de 2,4 milhões de pessoas estão sitiadas. Pelo menos 61 pessoas morreram nas últimas 48 horas.
Eleven months…..
— Philippe Lazzarini (@UNLazzarini) September 7, 2024
Enough!
No one can take this any longer
Humanity must prevail#CeasefireNOW #Gaza
"Onze meses. Basta. Ninguém aguenta mais isso. A humanidade deve prevalecer. Cessar-fogo já!", escreveu o chefe da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, na rede X.
Apesar das tentativas dos Estados Unidos, Catar, Egito e da pressão para obter um cessar-fogo e a libertação de reféns israelenses, Israel e Hamas não cedem em suas posições.
Duas questões principais dificultam as negociações. O primeiro envolve o corredor da Filadélfia, uma área na fronteira entre Gaza e Egito que Israel quer manter sob seu controle. Outro ponto de bloqueio é que Tel Aviv reserva o direito de determinar o número e a identidade dos prisioneiros palestinos que serão libertados em troca dos reféns.
Neste sábado, ao amanhecer e logo no início da manhã, vários ataques aéreos e bombardeios de artilharia atingiram o território palestino, de acordo com jornalistas da AFP no terreno.
Pelo menos 16 palestinos morreram, incluindo mulheres e crianças, em Jabalia e na Cidade de Gaza (norte), além de Nuseirat e Bureij (centro), segundo testemunhas e as equipes de resgate. Em Jabalia, uma tenda improvisada montada na escola Halima Al-Saadiya, que abriga moradores deslocados, foi atingida.
"Há entre 3.000 e 3.500 pessoas nesta escola. Estávamos dormindo quando de repente um míssil caiu sobre nós. Acordamos apavorados. Muitos morreram, incluindo mulheres e crianças", disse uma testemunha, Ahmed Abd Rabbo.
Na Cisjordânia, separada de Gaza pelo território israelense e onde a violência aumentou nas últimas semanas, o Exército israelense se retirou de Jenin, após uma operação marcada pela destruição de infraestruturas, que deixou 36 palestinos mortos desde 28 de agosto, segundo a ONU e a Autoridade Palestina.
Israel prometeu destruir o movimento islâmico Hamas, que tomou o poder em Gaza em 2007 e é considerado um movimento terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.