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Saúde
31/08/2024 08:00:00

Alimentação com falta de nutrientes afeta saúde mundial

O primeiro estudo global sobre a ingestão alimentar de substâncias, como vitaminas e minerais, mostra uma insuficiência significativa em mais da metade da população. No Brasil, selênio, iodo e as vitaminas B6 e E estão em baixa


Alimentação com falta de nutrientes afeta saúde mundial

Correio Braziliense

Cinco bilhões de pessoas — mais da metade da população mundial — ingerem uma quantidade insuficiente de micronutrientes cuja deficiência é associada a cegueira, maior suscetibilidade a doenças infecciosas e eventos adversos na gestação, entre outros. Publicado na revista The Lancet Global Health, esse é o primeiro estudo global sobre o consumo alimentar de substâncias essenciais à saúde humana e, segundo os pesquisadores, mostra um quadro preocupante. 

Coordenados pela Escola de Saúde Pública T. H. Chain da Universidade de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos, os pesquisadores usaram dados do Global Dietary Database e do Banco Mundial, além de registros nacionais, para verificar se a ingestão de 15 micronutrientes essenciais (veja quadro nesta página) corresponde às necessidades das populações de 185 países, incluindo o Brasil. Foi feita uma divisão por sexo e faixas etárias, de recém-nascidos a pessoas com mais de 80 anos.  

Com base em estimativas da ingestão de nutrientes provenientes dos alimentos — suplementos e fortificações ficaram de fora da análise —, o estudo mostra que 68% da população mundial não consome o suficiente de iodo; 67% ingere menos vitamina E do que o necessário, e 66% está aquém do recomendado para cálcio. Além disso, para mais de 4 bilhões, a alimentação é deficiente de ferro (65%), riboflavina (55%), folato (54%) e vitamina C (53%). 

Globalmente, as ingestões inadequadas de iodo, vitamina B12, ferro e selênio foram mais observadas em mulheres. Já a insuficiência de magnésio, vitamina B6, zinco, vitamina C, vitamina A, tiamina e niacina é maior entre os homens. Os pesquisadores também observaram que pessoas de ambos os sexos entre 10 anos e 30 anos são as que menos consomem alimentos com cálcio, especialmente no sul e leste da Ásia, na África subsaariana, na América do Norte, na Europa e na Ásia Central. 

Brasil

No Brasil, a ingestão de vitamina B12, folato, zinco, niacina, tiamina, ferro e riboflavina está acima de 50% entre homens e mulheres; as principais inadequações são relativas a selênio, vitamina B6, iodo e vitamina E. A deficiência dessa última, que previne o dano da oxidação celular, pode prejudicar os reflexos e a coordenação, causar dificuldade para andar e enfraquecimento dos músculos, e é insuficiente para mais de 75% da população acima de 10 anos. 

"Esses resultados são alarmantes", comenta Ty Beal, especialista técnico senior da Aliança Global para Melhora Nutricional (Gain, sigla em inglês) e um dos autores do estudo. "A maioria das pessoas — ainda mais do que se pensava anteriormente, em todas as regiões e países de todas as rendas — não está consumindo o suficiente de vários micronutrientes essenciais. Essas lacunas comprometem os resultados de saúde e limitam o potencial humano em escala global."

Embora os autores não tenham investigado as causas da insuficiência dos micronutrientes, especialistas lembram que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados — produtos industrializados, como pratos prontos, embutidos, salgadinhos, biscoitos e refrigerantes — reduz a ingestão de vitaminas e minerais. "O excesso de produtos ultraprocessados na alimentação pode contribuir para a deficiência de micronutrientes, porque são ricos em calorias, açúcares, gorduras e sódio, mas pobres em vitaminas e minerais essenciais", afirma Michely Tomazini, nutricionista da WB Nutri. 

No Brasil, o consumo de ultraprocessados aumentou 5,5% em uma década, de acordo com uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). "Mesmo pessoas com uma boa condição financeira podem optar pelo sabor e praticidade dos ultraprocessados, mas excesso desses alimentos são comprovadamente maléficos à saúde", destaca a nutricionista Jana Caiado, de Brasília, especialista em saúde intestinal. "O uso contínuo desses pode desencadear diversos malefícios para a saúde a longo prazo. As alterações em exames de sangue são verificadas frequentemente nesse público", atesta. 

Decisões

Para os autores do estudo publicado na revista The Lancet Global Health, o levantamento poderá ser um guia para tomadas de decisões de políticas alimentares. "O desafio de saúde pública que enfrentamos é imenso, mas os profissionais e formuladores de políticas têm a oportunidade de identificar as intervenções alimentares mais eficazes e direcioná-las às populações mais necessitadas", disse, em nota, Christopher Golden, autor senior do estudo e professor na Harvard Chan School. Segundo Golden, a pesquisa abre caminho para cada país investigar, mais aprofundadamente, as causas e a gravidade das deficiências. 

Do ponto de vista individual, a nutricionista esportiva Rayane Marques recomenda incluir uma variedade de produtos ricos em nutrientes. "É a chave para garantir que estamos ingerindo todos esses micronutrientes de forma adequada." A suplementação, que só deve ser feita com orientação profissional, não traz nenhum benefício, caso a alimentação seja deficiente, destaca Jana Caiado: "Os suplementos, como o próprio nome diz, precisam complementar uma alimentação balanceada para o correto efeito". 



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