Ameaças e tentativa de homicídio: Padre é transferido de paróquia após ser alvo de violência política

Jornal de Alagoas

Neste domingo (18), o Padre André Albuquerque, da paróquia de São José, do município de Novo Lino, interior de Alagoas, anunciou, ao final da tradicional missa do dia, que deixaria de ser o sacerdote do município. Ele estava há cinco anos na congregação da cidade e diz ter enfrentado perseguições políticas, que o levaram a tomar essa decisão.

A notícia tomou de surpresa o município de pouco mais de 10 mil habitantes, mas a história da indisposição do pároco junto a políticos locais vem de antes, e envolve ameaças, difamação e uma suposta tentativa de homicídio, causada pela sabotagem no veículo oficial da paróquia.

Durante discurso na missa de domingo, registrado em live e compartilhado nas redes sociais da Paróquia São José, Padre André tratou de iniciar sua fala com uma reflexão sobre a vida e a importância dela, como o fato de saber aproveitar sabiamente pode trazer plenitude no fim.

Ele prosseguiu afirmando que sofreu ameaças veladas e foi alvo de inverdades: “Os seus contadores batiam no peito para que fosse verdade, o que de fato era para eles, mitomaníacos. Enquanto as considerações eram lançadas, podíamos desvencilhar-nos, e as deixávamos passar como se nada tivesse acontecido. Porém, quando partimos para uma realidade que põe em risco a vida pessoal e dos que você ama, percebe-se que é chegada a hora de repensar nas atitudes e buscar sua propriedade segura”, declarou o padre.

Em seguida, o pároco relatou que na semana anterior à missa, os freios do carro da paróquia foram cortados.

“O carro da paróquia teve os cabos do ABS de ambos os lados cortados. A função deste instrumento dá-se como segurança para que numa frenagem brusca em alta velocidade, os pneus não travem, assim evitando capotamento. O carro da paróquia só é usado por mim ou por alguém de extrema confiança. Além disso, andam comigo vidas, preciosas por sinal, que não posso por em risco”, disse Padre André, confirmando que esse foi o estopim para o pedido de sua transferência, realizada em comum acordo com Dom Carlos Alberto, arcebispo de Maceió e principal liderança da Igreja Católica no estado.

Ao Jornal de Alagoas, moradores de Novo Lino relataram que os discursos de Padre André durante as missas da cidade estavam mais duros e carregados de mensagens que podem ter ofendido políticos da cidade. Outros moradores, no entanto, questionam a ausência de câmeras ou de boletim de ocorrência sobre o caso e pedem para que sejam mostradas provas sobre o que supostamente aconteceu. 

A reportagem ligou para o padre André por três vezes, mas não conseguiu contato efetivo. Procurada para saber as motivações da transferência do padre, a Arquidiocese de Maceió limitou-se a dizer que este movimento é praxe da Igreja Católica, baseada em seu Código de Direito Canônico.

“O Arcebispo Metropolitano, junto ao Conselho Presbiteral se reúnem e fazem uma redistribuição dos clérigos em novas funções. Aconteceu com o Padre André Albuquerque e vários outros sacerdotes neste ano de 2024”, disse o porta-voz da Arquidiocese, Pe. Rodrigo Rios.

Ameaças e suposta tentativa de homícidio 

Na terça-feira, (20), a prefeita de Novo Lino, Marcela Gomes (MDB), publicou em suas redes que devido às denúncias quanto à suposta tentativa de homicídio contra o padre da cidade foi pessoalmente à sede da Secretaria de Segurança Pública para requerer que os fatos sejam apurados de forma célere e se, comprovados, que os responsáveis sejam responsabilizados no rigor da lei.

“Reitero meu compromisso com todos os linenses de que atuarei incansavelmente para que os fatos sejam apurados com transparência”, disse a gestora.

No ofício, a prefeita destaca que  tomou conhecimento, via vídeos e áudios nas redes sociais e WhatsApp, de um atentado contra a vida do padre André Albuquerque. Ele relatou que os cabos ABS do carro da Paróquia foram cortados, comprometendo a segurança do veículo. Durante a missa, o padre mencionou as dificuldades enfrentadas durante seus cinco anos na Paróquia e que, por questões de segurança, ele solicitou sua transferência. Ele mencionou que algumas pessoas estariam comemorando sua saída.

Segundo ela diversas mensagens foram propagadas nas redes sociais, atribuídas a um indivíduo conhecido como Demário José da Silva, também chamado de "Maro da geladeira". Nelas, ele faz insinuações sobre a tentativa de homicídio e manifesta descontentamento com a presença do padre na cidade.

Ainda no documento e de acordo com os áudios relatados, Demário José sugere que conhece quem estaria por trás do atentado contra o padre, utilizando expressões que indicam a intenção de retribuir as ações dessa pessoa, mencionando que "vai pagar o preço". Ele também diz estar sendo alvo de tramas contra sua vida, afirmando que, se algo acontecer com ele, será responsabilidade da mesma pessoa que atentou contra o padre.

O Jornal de Alagoas recebeu informações sobre um suposto acidente em um veículo da igreja dirigido pelo padre, relatado superficialmente por ele e tratado como um suposto caso de tentativa de homicídio pela prefeita, mas não conseguimos confirmação de que o acidente de fato aconteceu. 

Em 2021, a paróquia teve negado pela gestão do munícipio, sob o comando de Marcela, à época no PL, um ofício para a cessão de um espaço ao lado da igreja para a realização da tradicional missa campal da Festa de São José, padroeiro da cidade, que ocorre anualmente no mesmo local. Reportagem de um portal local, citou à época e utilizando-se de fontes apócrifas, que o padre incomodava fiéis pelo seu envolvimento político-partidário. Apesar disso, todos os comentários desta publicação foram em defesa do padre.

Aos fiéis, após comunicar que deixaria a paróquia, o padre ressaltou que o pedido não está atrelado a nenhum motivo particular, mas sim por sua decisão em conjunto com o arcebispo de Maceió e principal representante da igreja católica em Alagoas, Dom Carlos Alberto.

“Deixo claro que ela não está ligada a nenhum pedido particular de quem quer que seja. Mas sendo atendido o meu pedido como colaborador de leve do Arcebispo. Muitos daí poderão cantar vitória, eita, conseguimos tirar ele daqui, mas aqui não é uma competição para vitoriosos ou perdedores, mas prudentes e insensatos”, pontuou o padre.

“Ao contrário do que muitos pensam, não é preciso ter opinião para tudo e está tudo bem não haver. O que realmente deveria importar é o fato de aproveitar a vida sabiamente para que quando cheguemos ao seu fim, temos a satisfação de ter realmente vivido e não nos lamentemos por ter deixado de lado. Aquilo que realmente era essencial”, iniciou ele.

Agora, Padre André tomará posse na Paróquia de Nossa Senhora da Glória, em Porto de Pedras, no dia 27 de setembro, onde sucederá o Padre Antelmo. Em Novo Lino, Padre Ronaldo Santos irá assumir a Paróquia de São José no dia 26 de setembro.