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Saúde
06/08/2024 08:00:00

Alzheimer: pesquisadores usam células da pele para criar novo tratamento

Pesquisadores transformaram células da pele, retiradas de pacientes com a doença, em neurônios.


Alzheimer: pesquisadores usam células da pele para criar novo tratamento

Correio Braziliense

Cientistas da Escola de Medicina da Universidade Washington, nos Estados Unidos, criaram uma nova forma de visualizar os efeitos do envelhecimento gerados pelo Alzheimer e, a partir disso será possível aperfeiçoar alternativas de tratamento. Eles desenvolveram um método para estudar neurônios envelhecidos em laboratório sem a necessidade de biópsia cerebral. Para os autores do artigo, publicado, ontem, na revista Science, a novidade deve ajudar a entender melhor a doença e respaldar novas estratégias de tratamento.

Para a pesquisa, a equipe transformou células epiteliais retiradas de pacientes com Alzheimer de surgimento tardio, a partir dos 65 anos, em neurônios. Agora, de forma inédita, os neurônios de laboratório reproduziram com precisão as características desse tipo de demência, incluindo o acúmulo de placas beta amiloide, depósitos de proteína tau e morte neuronal.

Ao analisar profundamente essas estruturas, os cientistas verificaram os chamados elementos retrotransponíveis — que mudam sua atividade de local no genoma conforme o organismo envelhece — no desenvolvimento da doença de Alzheimer de início tardio. Segundo eles, as descobertas sugerem novas estratégias de tratamento visando essas especificidades.

"A doença de Alzheimer esporádica e de início tardio é o tipo mais comum, representando mais de 95% dos casos", afirmou, em nota, o autor sênior do artigo, Andrew Yoo, professor de biologia da Universidade Washington. "Tem sido muito difícil estudar em laboratório devido à complexidade da doença decorrente de vários fatores de risco, incluindo o envelhecimento como um importante contribuidor. Até agora, não tínhamos uma maneira de capturar os efeitos do envelhecimento nas células para estudar o Alzheimer de início tardio", detalhou.

Após transformar células da pele em neurais, os pesquisadores viram que os novos neurônios eram capazes de se desenvolver em uma fina camada de gel e de formar pequenos aglomerados — chamados esferoides — imitando o cérebro. A equipe comparou, então, os esferoides de pacientes com doença de Alzheimer esporádica e de início tardio, Alzheimer hereditário e indivíduos saudáveis da mesma faixa etária.

Os esferoides de quem tinha demência desenvolveram rapidamente depósitos de beta amiloide e emaranhados de tau. Genes ligados à inflamação também foram ativados, e os neurônios começaram a morrer, o que é visto em exames de pacientes diagnosticados. Já as estruturas cultivadas a partir de doadores mais velhos e saudáveis apresentaram pouco acúmulo de proteínas.

Carlos Uribe, neurologista do Hospital Brasília, da rede Dasa no Distrito Federal, destaca que a nova técnica provavelmente terá aplicação em testes de medicações em ensaios pré-clínicos. Mas, sua utilização para diagnósticos, ele avalia, deve demorar mais porque exige mais estudos. "O impacto no diagnóstico e tratamento ainda são muito precoces. Atualmente a gente usa biomarcadores que são coletados ou no sangue, ou no líquido cefalorraquidiano. Essa é uma técnica que é bastante efetiva, sensível e específica, essa outra técnica, apresentada no estudo, parece muito mais sofisticada e muito mais cara de se desenvolver."

Os cientistas também descobriram que tratar esferoides de pacientes com Alzheimer de início tardio com medicamentos que afetam a formação de placas beta-amiloide no começo da doença, reduziu significativamente os depósitos de proteína.

A equipe notou ainda que inibir os elementos retrotransponíveis, com o medicamento antirretroviral lamivudina, também chamado de 3TC, é eficaz. Os esferoides de pacientes com Alzheimer de início tardio submetidos a essa droga tiveram redução nos emaranhados de proteínas acumuladas e de morte neuronal.

Lucas Benevides, psiquiatra e professor de medicina do CEUB, em Brasília, ressalta que, nos últimos anos, houve avanços significativos contra a neurodegeneração. "Aprovação de novos medicamentos e desenvolvimento de terapias para redução da inflamação cerebral. Técnicas de imagem cerebral avançadas e biomarcadores também têm melhorado o diagnóstico e o monitoramento. Se os resultados do 3TC forem confirmados, poderemos ter uma nova abordagem terapêutica que atua diretamente sobre um dos mecanismos subjacentes à neurodegeneração."

Agora, cientistas planejam novos ensaios com esferoides de vários tipos de células cerebrais, incluindo neurônios e glias.

 



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