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O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento geralmente diagnosticado na infância, antes da idade escolar, por volta dos três anos de idade, que acometem mais os meninos. Porém, para muitas pessoas ele pode passar despercebido até a vida adulta. Este fenômeno é desafiador tanto para os profissionais de saúde quanto para os próprios pacientes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existam 70 milhões de pessoas com autismo no mundo.
Quadros mais leves de autismo eram subestimados e estigmatizados, resultando em diagnósticos errôneos de outros transtornos mentais. Nos últimos anos houve uma mudança perceptível na maneira como profissionais de saúde avaliam e tratam o autismo, adotando uma visão mais ampla e critérios mais precisos, o que pode explicar o aumento nos números de diagnósticos de autismo.
O autismo é um transtorno que se manifesta de maneira ampla e variada, afetando a comunicação, relacionamentos interpessoais e o comportamento daqueles que vivenciam essa condição, abrangendo uma variedade de características e intensidades.
Essa diversidade pode levar a desafios diagnósticos, especialmente quando os sintomas não são claramente reconhecidos ou são confundidos com outras condições médicas ou psicológicas. Em muitos casos, o paciente era diagnosticado com um quadro depressivo, ansioso ou de transtorno de déficit de atenção (TDAH), que é muito confundido com TEA, mas quando se fazia uma avaliação mais criteriosa do caso, o diagnóstico correto, na verdade, era de autismo. O diagnóstico tardio do TEA pode acontecer por falta de acesso à informação na infância e por diversos outros fatores.
Essas dificuldades podem ser agravadas pela falta de reconhecimento precoce e apoio adequado ao longo da vida. Pessoas diagnosticadas tardiamente muitas vezes apresentam sintomas leves que podem ter sido interpretados erroneamente como timidez ou simples dificuldades sociais.
Os sinais de autismo podem se manifestar de maneira sutil ou atípica, especialmente em pessoas com habilidades linguísticas desenvolvidas. Alguns dos indicadores comuns incluem dificuldades na interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento e interesses, bem como desafios na comunicação não verbal, como expressões faciais e gestos.
O quadro de autismo é muito heterogêneo e as características podem mudar ao longo da vida. As alterações sensoriais como hipersensibilidade à luz e ruídos e as dificuldades na comunicação e na interação com outros indivíduos podem persistir na fase adulta, mas a evolução ao longo da idade pode mitigar ao longo do tempo.
O diagnóstico tardio do autismo pode ter impactos significativos na vida de uma pessoa. Sem um entendimento claro de suas necessidades específicas, eles podem enfrentar dificuldades em contextos sociais, na vida acadêmica e profissional. Isso pode levar a sentimentos de isolamento, quadros de ansiedade e depressão, baixa autoestima, etc. A ansiedade e depressão são muito comuns em pacientes com autismo leves.
A identificação precoce é fundamental para garantir que os indivíduos recebam o suporte e os recursos necessários desde cedo. Intervenções precoces, como terapias comportamentais e educacionais adaptadas, podem melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento do paciente.
O diagnóstico em adultos é realizado por psiquiatras, através de uma avaliação clínica abrangente. Isso pode incluir entrevistas detalhadas com o paciente e seus familiares, observação comportamental, avaliação das habilidades sociais, emocionais e cognitivas, histórico médico detalhado, e quando necessário solicitar exames complementares como a avaliação neuropsicológica, fonoaudiológica e outros.
Compreender o autismo como uma condição diversa e complexa é fundamental para garantir que adultos diagnosticados tardiamente recebam o suporte necessário. Intervenções específicas e personalizadas podem ajudar a melhorar significativamente a qualidade de vida e a integração social desses indivíduos. Combater o estigma e o preconceito contra doentes mentais também é uma forma de dar suporte a essas pessoas e promover a inclusão social.
O estigma estrutural em relação ao autismo é tão grande que não há, dentro do planejamento do Ministério da Saúde, das Secretarias Estaduais de Saúde, nenhum serviço para atender autistas adultos. É como se as pessoas que são autistas enquanto crianças não tivessem mais a necessidade de serem cuidadas depois que se tornam adultos. É um total desrespeito com essa população que carece de atendimento, carece de terapia adequada e não encontra porque o Estado ignora, em função do estigma estrutural, que discrimina essas pessoas dando péssimas condições de cuidado e de evolução, seja para o atendimento clínico, seja para o atendimento psicoterápico ou suporte através de medicamentos, exames laboratoriais, para que elas tenham acesso a um melhor resultado e melhora na qualidade de vida.
Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais.
Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.
É autor de dezenas de livros e artigos científicos em revistas internacionais e também palestrante nacional e internacional.