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Vinte de julho foi a data proposta para celebrar o Dia do Amigo, sob iniciativa do professor de psicologia, músico e dentista argentino Enrique Ernesto Febbraro, em 1969. Na ocasião, a data marcava a chegada do homem à lua.
Segundo o jornal argentino La Nación, Febbraro enviou milhares de cartas em idiomas diferentes na tentativa de chamar a atenção de diversas nações para a consciência de que a união e a fraternidade são as melhores ferramentas para alcançar objetivos. Ele ficou comovido com os passos dados pelo astronauta americano Neil Armstrong (1930-2012) em solo lunar, e o simbolismo daquilo o conduziu para um olhar coletivo sobre as relações humanas.
A atitude de propor o Dia do Amigo para 20 de julho, data em que os Estados Unidos celebram um dos seus maiores orgulhos pessoais, mostra a coerência de Febbraro ao refletir que aterrissar na lua foi um gesto de amizade da humanidade - não apenas dos americanos - para com o universo.
“Uma cidade de amigos seria uma nação imbatível”, disse ele, em um dos trechos das cartas que enviou mundo afora. Em contrapartida, sob a ótica do mundo atual, isso também nos leva a refletir a respeito dos chamados “tempos líquidos”, termo citado nas obras do filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), que sugere uma realidade contemporânea marcada pela fragilidade e efemeridade dos vínculos humanos.
Apesar da expansão tecnológica, a liquidez não precisa ser contestada partindo do contraponto entre a conexão presencial versus a virtual. Algumas pessoas podem achar efêmero manter um vínculo de amizade inteiramente online e preferem cultivar o contato olho a olho. Outras podem acreditar que seus amigos virtuais são mais presentes e relevantes do que aqueles que podem encontrar no barzinho mais próximo. Não é o meio por onde se cultiva o vínculo que conta, e sim como ele se estabelece. Pense: o que você tem feito pelos seus amigos? O que você tem feito com os seus amigos?
Febbraro não sonhava em unificar o mundo, ele entendia que unidade não significa uniformidade. Diante da liquidez, seu gesto para com o 20 de julho assume um caráter quase contracultural, desafiando a transitoriedade e a superficialidade dos laços modernos e promovendo um alerta para a sobrevivência de um princípio de coletividade, que é urgente.
Ele morreu em 2008, aos 84 anos, e viu sua ideia ser abraçada pela sua nação Argentina, além do Brasil – mesmo que de forma não-oficial - e Uruguai, países onde a data 20 de julho faz referência ao dia do amigo.