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Guerra
20/06/2024 02:00:00

Palestinos buscam por familiares desaparecidos em Gaza

Milhares de pessoas podem estar soterradas sob os escombros de edifícios destruídos no enclave palestino ou detidos pelas forças israelenses, sem que suas famílias saibam o seu paradeiro.


Palestinos buscam por familiares desaparecidos em Gaza

dw.com/pt-b

Muhammad Anza, de Rafah, na fronteira da Faixa de Gaza com o Egito, está procurando há semanas por seu tio Ibrahim Al-Shaer, que desapareceu no início de maio.

"Desde aquele dia, ele nunca mais voltou e não temos notícias dele", disse Anza, de 19 anos. "Estamos em um estado de grande preocupação. Queremos saber onde ele está, queremos saber se ele está morto, para que possamos enterrá-lo e ter misericórdia dele, ou se ele foi detido [pelos militares israelenses]."

Quando os militares israelenses lançaram uma ofensiva no leste de Rafah em 6 de maio contra o grupo fundamentalista islâmico Hamas, Al-Shaer e sua família receberam ordens de deixar sua casa na área. Anza disse que seu tio tentou voltar alguns dias depois para recuperar alguns itens que a família não tivera tempo de levar consigo.

A família, conta Anza, procurou hospitais e perguntou sobre o tio a vizinhos que haviam retornado na mesma época para verificar suas casas. Houve bombardeios e ataques aéreos nas proximidades, mas os mortos foram identificados pelos serviços de emergência.

"Entramos em contato com a polícia, a Cruz Vermelhae os comitês locais, mas não sabemos onde ele está, e ninguém sabe de nada", disse Anza.

Palestinos que vivem em acampamentos na área de Khirbat al-Adas deixam suas casas após um ataque aéreo israelense a leste de Rafah, Gaza, em 08 de maio de 2024
Muitas famílias foram deslocadas várias vezes ao fugirem dos ataques das forças armadas de IsraelFoto: Doaa Albaz/Anadolu/picture alliance

A família, como muitas outras, postou uma foto e uma descrição das circunstâncias do desaparecimento de Al-Shaer nas mídias sociais, pois não sabia mais a quem recorrer.

Milhares de corpos não identificados e pessoas desaparecidas

Com a guerra entre Israel e o Hamas em seu nono mês, milhares de pessoas seguem desaparecidas no enclave palestino. Muitas podem estar sob escombros após ataques aéreos. Acredita-se que outras tenham sido detidas em postos de controle israelenses ao tentar retornar ao norte de Gaza ou fugir para o sul.

Embora o número exato de pessoas procuradas seja desconhecido, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) registrou 6,5 mil casos de desaparecidos em  Gaza desde o início do conflito.

"Desde 7 de outubro, abrimos linhas diretas para que as pessoas nos liguem se tiverem parentes desaparecidos por qualquer motivo, como uma alegação de detenção ou prisão, se eles foram separados durante as evacuações ou se podem ter sido feridos ou mortos", disse Sarah Davies, oficial de comunicações do CICV em Jerusalém.

Os corpos que são recuperados e levados para os necrotérios de Gaza nem sempre são facilmente identificados. Em 10 de junho, 9.839 mortos estavam sem identificação, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas. Outros 27.325 foram identificados.

Mais de 37 mil palestinos morreram até agora na guerra entre Israel e Hamas em Gaza, informou a pasta. Os números não fazem distinção entre combatentes e civis. A DW não pode verificar as cifras de forma independente.

Enquanto isso, de acordo com as Forças de Defesa de Israel, pelo menos 650 soldados foram mortos desde o ataque de 7 de outubro, 298 dos quais morreram durante a operação terrestre em Gaza que começou no final de outubro de 2023.

Davies disse que encontrar os desaparecidos é extremamente desafiador devido à situação em Gaza.

Palestinos observam as consequências do bombardeio israelense no campo de refugiados de Nuseirat, na Faixa de Gaza, no sábado, 8 de junho de 2024.
Palestinos observam as consequências do bombardeio israelense no campo de refugiados de Nuseirat, na Faixa de Gaza, no sábado, 8 de junho de 2024.Foto: Jehad Alshrafi/AP Photo/picture alliance

"Embora tenhamos ampla experiência em zonas de guerra, no momento, o rastreamento ativo é impossível", disse ela.

A Cruz Vermelha geralmente faz o rastreamento ativo, que envolve ir às ruas e bater nas portas das pessoas para fazer perguntas. Mas agora, em Gaza, "as pessoas não têm portas", disse Davies, "e estão constantemente sendo deslocadas e deslocadas novamente".

Telefones perdidos e comunicação instável

Linhas de comunicação instáveis e telefones perdidos às vezes dificultam ainda mais o contato com as pessoas. O CICV tem cinco operadores de linha direta em Gaza que recebem informações básicas das pessoas que procuram seus entes queridos, como o local onde foram vistos pela última vez. Em seguida, um especialista em rastreamento liga para as famílias e tenta montar um dossiê.

"Os operadores da linha direta estão ouvindo histórias de famílias, e é de partir o coração", disse Davies. "Algumas [pessoas] perderam vários membros da família ou foram separadas de vários membros da mesma família. E não se sabe se foi porque estão sob escombros ou porque perderam o telefone ou o chip do celular, ou se estão em uma área sem conexão e sem internet, mas estão bem."

Os nomes dos desaparecidos são cruzados com as listas dos poucos hospitais que ainda estão funcionando ou com as listas de detidos por Israel.

Desde 7 de outubro, Israel prendeu milhares de palestinos em Gaza e os levou para centros de detenção por suspeita de conexão com organizações militantes.



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