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Mundo
29/05/2024 04:00:00

Grupo ligado ao Estado Islâmico usou crianças-soldado em Moçambique, afirma ONG

Um menor, com 13 anos de idade, foi visto carregando um fuzil de assalto russo AK e equipado com um cinto de munição


Grupo ligado ao Estado Islâmico usou crianças-soldado em Moçambique, afirma ONG

A Referência

Crianças-soldado foram usadas por um grupo extremista associado ao Estado Islâmico (EI) em um ataque à cidade de Macomia, na província de Cabo Delgado, em Moçambique. A denúncia foi feita na quarta-feira (15) pela ONG Human Rights Watch (HRW), que ouviu testemunhas e verificou imagens para embasar a alegação.

Pessoas que presenciaram o ataque afirmaram ter visto dezenas de menores de idade, um deles com 13 anos, portando fuzis de assalto modelo AK russos e cintos de munição. Eles agiram junto de combatentes veteranos do Al-Shabab, um grupo local que não tem relação direta com o Al-Shabaab da Somália, este uma facção da Al-Qaeda.

Na ação, os insurgentes e os menores saquearam lojas e armazéns da cidade, localizada na volátil província de Cabo Delgado, onde o EI marca forte presença. Depois, os terroristas entraram em confronto com as forças de segurança moçambicanas, mas não está claro se as crianças-soldado também participaram dessa etapa da operação.

 

“A utilização de crianças como soldados pelo grupo armado Al-Shabab é cruel, ilegal e só aumenta os horrores do conflito de Cabo Delgado”, afirmou Zenaida Machado, investigadora para a África da HRW. “O Al-Shabab deveria libertar imediatamente todas as crianças das suas fileiras e impedir qualquer recrutamento adicional.”

Duas testemunhas de uma mesma família ouvidas pela HRW disseram ter visto o sobrinho, de 13 anos, entre as dezenas de crianças que participaram do saque. “O recrutamento e utilização de crianças menores de 15 anos como crianças-soldados é um crime de guerra”, diz a ONG em seu relatório.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), a presença do Al-Shabab em Macomia, que se estendeu de 10 a 12 de maio, levou cerca de 700 pessoas a deixarem a cidade, com algumas delas obrigadas a se esconder em florestas da área para fugir da violência. Ao menos dez pessoas morreram no confronto, a maioria militares moçambicanos.

“O Al-Shabab de Moçambique há muito utiliza crianças em combate”, afirma a HRW, que em 2021 relatou o sequestro de jovens moçambicanos para serem usados em combate contra as forças governamentais.

“A capacidade do Al-Shabab de recrutar, treinar e utilizar crianças-soldado em Cabo Delgado é muito preocupante”, declarou Zenaida Machado. “As autoridades moçambicanas, os grupos armados e os parceiros internacionais devem intensificar os seus esforços para garantir que as crianças permaneçam seguras na escola e em casa e manter as crianças fora do campo de batalha.”

Por que isso importa?

O EI passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz a ONU, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, HezbollahHamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”



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