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Geral
28/05/2024 21:00:00

Moradores de rua invadem a Sinimbu

Quem mora no entorno afirma que praça virou uma “cracolândia”; habitantes dizem sentir medo e insegurança


Moradores de rua invadem a Sinimbu

Tribuna Hoje

Moradores do entorno da Praça Sinimbu, no Centro de Maceió, reclamam que o local está servindo de abrigo para pessoas em situação de vulnerabilidade social e para dependentes químicos.

Com medo da insegurança e do consumo de drogas, observam das janelas de suas residências a rotina atípica da Sinimbu, aguardando que alguma providência seja tomada pelo poder público.

Um morador do entorno que pediu para não ter seu nome revelado disse que a Praça Sinimbu é a cracolândia de Maceió. “Estamos temerosos. Não são apenas moradores em situação de rua. É tráfico. É consumo de drogas, a céu aberto e à luz do dia. Para quem quiser ver. Isso sem falar na imundície, mau cheiro, a praça está acabada. Tomaram conta do local público. Praticamente todas as praças de Maceió estão sendo reformadas. A Sinimbu foi esquecida e virou ponto de consumo e venda de drogas”, detalhou.

Ainda segundo o morador, as pessoas que estão ocupando a praça estão se sentindo tão donos do lugar que já estão construindo barracos de madeira. Até, disse ele, era só lona.
“Quem ainda tem coragem da andar pela praça logo se arrepende. As necessidades fisiológicas dos moradores em situação de rua e dos traficantes de drogas estão espalhadas por todo canto. O mau cheiro é insuportável”, reclamou.

A reportagem do jornal Tribuna Independente foi até a Praça Sinimbu, conferir a situação no local e encontrou histórias de vidas pesadas, relatos marcados pelo abandono familiar, pela desassistência por parte do poder público, pela dependência química e pela solidariedade de pessoas que levam refeições e um pouco do calor humano. Pelo menos 15 pessoas estão morando no local.

Fabiana Alves, 40 anos, mora na rua desde a adolescência quando foi abandonada pela mãe e pela tia (Foto: Adailson Calheiros)

Mulher mora nas ruas há 26 anos e diz que deixou vício

Fabiana Alves dos Santos, 40 anos, vive há 26 nas ruas. Abandonada pela mãe, ainda criança foi criada mais alguns anos pela tia que logo a abandonou também.

Atualmente, vive na praça contando com a visita diária do filho que faz malabares nos semáforos da capital. O rapaz de nome Artur Hítalo Alves tem 24 anos, três filhas com a companheira que já tinha um filho antes de morarem juntos.

“Moramos em um barraco, mas todo dia estamos aqui para ganharmos as refeições. Quando o dia é bom, recebo 50 pelo trabalho. Mas não é fácil. São seis bocas que eu tenho que dar comida. Eu me viro com a minha mãe. Quem tem mais, oferece ao outro e assim a gente vai vivendo”, contou.

Juntos, a família se orgulha do fato de Fabiana tem largado o vício do crack. “Tem 11 anos já. Todo dia é um dia. Aquela pedrinha acabava comigo, aquilo não é de Deus. Sigo agora no exército do Senhor”.

A melhor amiga da Fabiana é a Rebeca da Silva Pereira, 34 anos. Segundo ela, é de Aracaju e mora na praça com o companheiro. São avós de três netos. Rebeca mal conseguia falar. Estava sob efeito da cola de sapateiro. Quando tem R$ 15,00 se apressa para comprar uma garrafinha com o solvente.

Líder desta população afirma que falta tratamento contra uso de drogas

Conforme o líder do Movimento da População em Situação de Rua, Rafael Machado, não existe tratamento para população em situação de vulnerabilidade social.

“O único Centro de Atenção Psicossocial (Caps AD) de Maceió está fechado, há pelo menos quatro anos. Essa falta de atendimento agrava muito a questão da saúde mental, no uso abusivo do álcool e das drogas. Essas pessoas poderiam estar sendo assistidas pelo Centro de Atenção Psicossocial.

A Secretaria de Saúde de Maceió informou que o programa Consultório na Rua realiza o atendimento de pessoas em situação de rua que estão na Praça Sinimbu e desenvolve atendimentos de Atenção Básica em articulação com os outros serviços da rede de saúde e de assistência social.

Em setembro do ano passado, uma família em situação de vulnerabilidade social e que estava abrigada na Praça Sinimbu foi alvo de atentado à bala. Dois criminosos chegaram em uma moto vermelha e efetuaram os disparos.

Pai, mãe e filho adolescente foram atingidos pelos tiros. O homem foi baleado diversas vezes na cabeça e morreu no local. O adolescente faleceu dias depois no Hospital Geral do Estado. A mãe sobreviveu.
A Praça Sinimbu já teve seu auge quando servia de ponto de encontro das famílias alagoanas que frequentavam a Pizzaria Sorriso, a primeira da capital.

Jovem teve pai morto em uma briga de torcidas

Evaldo dos Santos, 44 anos, disse ter nascido em Penedo. Sem documentos nenhum em toda vida contou que queria apenas tratar a diabetes. Sequer, ele lembrou de como recebeu o diagnóstico da doença.

Cauã Júnior Carnaúba Mota, 18 anos, carrega tatuado no braço os nomes dos sete irmãos. E também de uma ex-namorada. Segundo ele, perdeu contato com todos desde que o pai foi assassinado em uma briga de torcida ao sair de um jogo no Rei Pelé.

“Perdi todo mundo. Fiquei sem referência. Minha vida tá na rua agora”, detalhou exibindo a história familiar que as tatuagens não o deixam esquecer.

O menor J.P.S, 17 anos, mora com a mãe no local. Ele é carioca. A mãe de Maceió. Ambos moravam com o companheiro dela no Rio de Janeiro. Voltaram a Alagoas assim que ele fora morto na comunidade por causa de uma dívida de drogas.

“Eu até estudava lá. Minha mãe queria que eu tivesse outra vida. Mas um menino tirou onda com a minha cara. Quebrei a cabeça dele com a cadeira da escola. Fui expulso e não quis mais saber de estudar. Eu lembro que tinha nove anos quando aconteceu isso”.

Fabiana Alves dos Santos, uma espécie de “mãe” de todos do grupo fez questão de dizer que ninguém mora na rua porque quer.

 



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