A decisão veio pouco depois do fim das sessões de ECT, em agosto de 2020. Ter Beek contou que passou um período "aceitando" que não havia mais opções antes de solicitar a morte assistida ao governo em dezembro daquele ano.

— Eu sabia que não conseguiria lidar com a maneira como vivo agora — disse ao jornal britânico, afirmando que pensou em suicídio, mas rejeitou a ideia após a morte violenta de uma colega de escola e o impacto provocado na família.

‘Nunca hesitei’

A Holanda foi o primeiro país do mundo a legalizar a eutanásia ativa e o suicídio assistido, seguida pela Bélgica. Ambos os processos também foram descriminalizados em Luxemburgo e na Espanha. A eutanásia foi adotada por Portugal, Equador, Cuba e Colômbia. Na Áustria e na Suíça, onde a eutanásia é proibida, é permitido o suicídio assistido — um procedimento um pouco diferente da eutanásia, no qual a pessoa tem acesso a uma substância letal que é ingerida ou aplicada pelo próprio paciente.

Na Holanda, sob uma lei que entrou em vigor em abril de 2002, uma pessoa pode solicitar a eutanásia quando "passa por um sofrimento insuportável, sem perspectiva de melhora", pontuando que o pedido deve ser feito "com seriedade e plena convicção". O texto prevê que um médico e um especialista independente determinem que o paciente sofre insuportavelmente e sem esperança de melhora.

Em 2012, a legislação foi ampliada para autorizar o procedimento a maiores de 12 anos sob grande sofrimento, desde que tivessem consentimento dos pais, e em 2020 a pacientes com demência grave, se o paciente tivesse solicitado o procedimento enquanto ainda mentalmente capaz. O governo holandês, em abril de 2023, também aprovou a eutanásia para crianças menores de 12 anos após anos de debate, permitindo mortes misericordiosas para jovens menores que sofrem "insuportavelmente e sem esperança".

O procedimento solicitado por transtornos mentais é incomum no país, mas tem aumentado. Segundo dados citados pelo Guardian, em 2010 foram registrados dois casos envolvendo sofrimento psiquiátrico. Em 2023, esse número saltou para 138, cerca de 1,5% do total de 9.068 mortes assistidas.

A mulher explicou que o processo é "longo e complicado", refutando o imaginário de que, "se você pedisse uma morte assistida na segunda-feira, estaria morto na sexta". Ter Beek contou que ficou muito tempo na lista de espera para avalição do seu caso, já que há poucos médicos "dispostos a se envolver na morte assistida de pessoas com sofrimento mental".

— Então, você tem de ser avaliado por uma equipe, ter uma segunda opinião sobre sua elegibilidade, e a decisão deles deve ser revisada por outro médico independente — explicou ao Guardian, afirmando que em cada estágio ouviu a pergunta "tem certeza?" dos médicos: — Nos três anos e meio que isso levou, nunca hesitei na minha decisão.

Quando sua história foi contada pela The Free Press — em reportagem que, segunda a holandesa, teria muitas imprecisões e deturpações —, Ter Beek recebeu uma enxurrada de e-mails, sendo a maior parte deles dos EUA. Ela então excluiu todas as suas contas das redes sociais. As mensagens, ela explicou, sempre pediam "não faça isso, sua vida é preciosa".

— Eu sei que é [preciosa] — respondeu, acrescentando que algumas pessoas diziam que "tinham uma cura com uma dieta especial", enquanto outras lhe sugeriram "encontrar Jesus ou Alá" ou disseram que ela "queimaria no inferno". — Foi uma merda total. Eu não consegui lidar com toda a negatividade.

Ter Beek disse que é "um insulto" as pessoas pensaram que alguém com transtornos mentais "não consegue pensar direito". Ela, porém, afirmou que é compreensível que casos como o seu, bem como o debate mais amplo se a eutanásia deveria ou não ser legalizada, eram controversos.

— Entendo o medo que algumas pessoas com deficiência têm em relação à morte assistida e a preocupação de que as pessoas sejam pressionadas a morrer. Mas na Holanda já temos essa lei há mais de 20 anos. Existem regras muito rígidas e é muito seguro — afirmou ao Guardian.

Data marcada

A mulher contou ao Guardian que, após conhecer sua equipe médica, sua morte assistida deve ocorrer dentro de algumas semanas. Apesar de já ter sentido medo e culpa em relação a seu companheiro, familiares e amigos, dizendo não ser "cega à dor deles", Ter Beek disse estar "absolutamente determinada". A sensação foi descrita por ela como "alívio".

Na data marcada, que não foi revelada pelo jornal britânico, a equipe irá à casa de Ter Beek, que fica em uma cidade pequena, próxima à fronteira com a Alemanha. Ali, ela vive com dois gatos. Ela explicou todo o procedimento, afirmando que a equipe começará aplicando um sedativo e que nenhum remédio para parar seu coração será aplicado até que ela entre em coma.

— Para mim, será como adormecer. Meu parceiro estará lá, mas eu disse a ele que está tudo bem se ele precisar sair da sala antes do momento da morte — disse.