Forças israelenses afirmam ter descoberto uma rede de túneis do Hamas debaixo do escritório central da UNRWA, na Cidade de Gaza, no que Israel aponta como mais uma evidência de que a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos era desvirtuada pelo grupo radical islâmico que controla o enclave palestino.
Os túneis, com 700 metros de extensão, foram apresentados pessoalmente a repórteres da imprensa estrangeira que acompanhavam o Exército isralense em uma incursão realizada na quinta-feira (08/02). Levavam a salas que continham cofres de aço que haviam sido abertos e esvaziados, vaso sanitário, servidores de computador e baterias industriais. Ali, os militares afirmam ter encontrado ainda armas e explosivos.
"Tudo é conduzido a partir daqui. Toda a energia para os túneis que vocês percorreram provém daqui", afirmou um militar que conduziu o grupo de jornalistas. "Esta é uma das centrais de comando da inteligência. É o lugar de uma das unidades de inteligência do Hamas, de onde eles comandaram boa parte dos combates."
Ainda segundo o Exército israelense, os túneis eram alimentados por cabos de energia instalados dentro da UNRWA – informação que não pôde ser verificada de forma independente – e teriam sido evacuados antes da chegada das tropas de Tel Aviv.
A UNRWA afirma não ter sido oficialmente informada sobre a existência dos túneis pelas autoridades israelenses e que deixou o escritório em 12 de outubro, cinco dias após o início da guerra, não tendo, portanto, como "confirmar ou comentar" o caso.
Em nota, a agência disse "não ter a expertise militar nem capacidade para executar inspeções militares do que está ou pode estar debaixo de suas instalações" e que a denúncia merece uma "investigação independente", mas cuja realização por parte da UNRWA é neste momento impossível diante da guerra.
"No passado, sempre que uma cavidade suspeita era encontrada próximo ou debaixo das instalações da UNRWA, cartas eram imediatamente enviadas às partes do conflito, incluindo as autoridades de fato em Gaza [Hamas] e as autoridades israelenses", disse a UNRWA.
Recentemente, Israel acusou 12 funcionários da UNRWA de envolvimento nos ataques terroristas de 7 de outubro que levaram ao atual conflito, desencadeando uma crise na agência que emprega 13 mil palestinos na Faixa de Gaza e levando à suspensão de doações internacionais para apoiar civis que tentam sobreviver à guerra em meio a uma grave crise humanitária.
Diante da acusação, a UNRWA dispensou dez funcionários – os outros dois morreram. Israel alega que 10% das pessoas que trabalham para a agência têm ligações com o Hamas, mas a UNRWA rebate que a afirmação carece de provas. O caso é investigado internamente pelas Nações Unidas.
A UNRWA administra escolas e centros de saúde e presta assistência humanitária a civis. Seu escritório central fica no norte do enclave, primeira região a ser invadida por tropas e tanques israelenses.
Defensores da UNRWA alegam que a agência é a única capaz de ajudar civis palestinos em Gaza. Já Israel argumenta que o órgão tem sua missão desvirtuada pelo Hamas e deve, por isso, ser substituído.
Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell defendeu no início de fevereiro em um encontro com ministros do exterior a retomada de repasses à agência. Segundo ele, apesar das denúncias, a maioria dos 27 países-membros do bloco sabe que não há como substituir a UNRWA, que alimenta cerca de 2 milhões de pessoas – não só em Gaza, mas também na Cisjordânia, Jordânia e Líbano.
"Quem vai substituir isso da noite para o dia?", questionou Borrell. "É verdade que o governo israelense é crítico à UNRWA não só de hoje. (...) Mas não podemos punir 2 milhões de pessoas."
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